Título: PAÍS VIVE NOVO RISCO DE RACIONAMENTO
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 04/08/2006, Economia, p. 26

Analista diz que escassez da oferta pode levar à falta de energia em 2009

BRASÍLIA. O país poderá ser obrigado a fazer um novo racionamento de energia elétrica no biênio 2009/2010. Isso porque, nos cálculos do economista Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), a defasagem entre demanda e oferta de energia daqui a três anos poderá chegar a 2%. Segundo ele, a economia de energia seria necessária mesmo que chova normalmente nos próximos anos. O consultor afirmou ainda que o aumento da demanda de energia sem o crescimento da oferta pode levar a uma explosão dos preços das tarifas. O governo considerou as declarações irresponsáveis.

A análise do CBIE considera uma expansão de 4% a 4,5% da economia do país. Adriano Pires ¿ que participou do workshop ¿Do modelo estatal ao livre mercado: Estudo do caso GLP¿ ¿ disse que de janeiro deste ano até agora não houve aumento de investimentos na geração de energia elétrica. Ele lembrou que o racionamento no governo Fernando Henrique Cardoso aconteceu justamente porque não foram aplicados no setor os recursos necessários e registrou-se a pior seca da História.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, rebateu a afirmação do consultor sobre o risco de apagão. Ele disse que entre 2003 e 2006 terão sido instalados 4.378 megawatts/ano em geração de energia elétrica ¿ capacidade suficiente para abastecer uma área do tamanho da Região Metropolitana do Rio.

Além disso, defendeu, foram construídos 13.196 quilômetros de linhas de transmissão, o que permitiu duplicar a capacidade de transporte de energia no país. Segundo Tolmasquim, a Região Sul do país está com a pior seca dos últimos 70 anos, mas, graças aos investimentos, a maior parte da demanda da região (65%) está sendo atendida.

Para o governo, alerta é infundado e irresponsável

Tolmasquim disse ainda que o nível do risco de déficit de energia em 2009/2010 é menor do que 3%, muito abaixo dos 5% aceitáveis pelo setor nos cálculos de risco:

¿ Considero que é irresponsável qualquer pessoa fazer afirmação sem embasamento em estudos técnicos. Nitidamente, este período pré-eleitoral leva algumas pessoas a fazer afirmações do gênero.

No seminário, Adriano Pires afirmou ainda que o preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP, o gás de cozinha) está defasado em 35% em relação aos preços internacionais, já que não há reajuste desde janeiro de 2003. E a defasagem da gasolina chega a 21% e a do óleo diesel, a 20%. Para ele, é socialmente injusta a política de congelamento do governo, porque, ao mesmo tempo, o subsídio é dado à população de baixa renda e às classes de maior poder aquisitivo. Ele afirmou que 75% das vendas do GLP são feitas por meio de botijões de 13 quilos.

O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindgás), Sergio Bandeira de Mello, disse que houve um crescimento da revenda informal de gás de cozinha. Estimativas das federações de revendas são de que existem no país 200 mil revendas informais, responsáveis pela comercialização de 40% do volume total de gás de cozinha. Apenas 70 mil empresas são registradas. O risco das revendas informais, segundo ele, é o armazenamento inadequado, com a possibilidade de acidentes.