Título: A PRESSA DA VITÓRIA
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 04/08/2006, O Mundo, p. 32

NOVA YORK. Enquanto tropas israelenses pressionam na ofensiva por terra no sul do Líbano, Israel agora luta para ganhar a batalha da percepção. O primeiro-ministro Ehud Olmert quer assegurar que, quando um cessar-fogo for negociado, Israel seja visto como o vencedor incontestável sobre o Hezbollah. Isso é politicamente importante para ele. Israel quer se recuperar de uma imagem de que seu Exército não impressionou contra um pequeno ¿ mas duro e bem treinado ¿ grupo de militantes.

Israel quer enviar uma mensagem a palestinos, Hezbollah, Síria e Irã de que ataques serão retaliados com força sobrepujante e o preço não valerá o esforço. O tempo que essa mensagem levará para ser compreendida terá um papel central no fim da guerra. Mas, como ocorre em todas as guerras, toda vitória deve ser consolidada em acordos políticos e diplomáticos, que ainda permanecem incertos ¿ como o que prevê o envio de uma força multinacional à fronteira.

Para o Hezbollah, a vitória simplesmente significa evitar a derrota e continuar a atirar mísseis, mesmo que de curto alcance, em território israelense. Vários muçulmanos considerarão isso uma vitória.

Gidi Grinstein, um ex-negociador de Israel e diretor do Reut Institute, um centro de pesquisa, chama isso de ¿o paradoxo 90-10¿: Israel pode eliminar 90% da capacidade de fogo do Hezbollah e mesmo assim o grupo declarar vitória, afirmando que conseguiu que Israel se retirasse do território libanês.

Giora Eiland, ex-conselheiro de segurança de Israel, prevê uma solução para o conflito na próxima semana. Mas ela será bem diferente ¿da intenção original de Israel¿. Ele vê um pacote político negociado com a ONU, que inclui uma troca de prisioneiros libaneses, com Israel ganhando de volta seus dois soldados seqüestrados; uma zona de segurança no sul do Líbano controlada por uma força multinacional; uma promessa de Israel de não violar a soberania do Líbano, e uma intenção por parte do governo libanês de ser responsável pelo comportamento do Hezbollah.

STEVEN ERLANGER é do New York Times