Título: ISRAEL REOCUPA SUL DO LÍBANO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 04/08/2006, O Mundo, p. 32

Exército cria zona de segurança em 20 aldeias. Hezbollah ameaça atacar Tel Aviv

Seis anos após retirar suas tropas, o Exército israelense já reocupa uma área que inclui 20 aldeias libanesas, criando o que chamou de uma nova zona de segurança que pretende estender a todo o sul do Líbano: da fronteira entre os dois países ao Rio Litani, uma área maior do que a ocupada até 2000. Os duros combates elevaram o tom de lado a lado, com o líder da guerrilha xiita do Hezbollah, Hassan Nasrallah, ameaçando atacar Tel Aviv se o centro de Beirute for atingido. Israel, por sua vez, prometeu destruir a infra-estrutura do país caso a cidade seja alvo de ataque.

¿ Se atingirem Beirute, a resistência islâmica atacará Tel Aviv ¿ disse Nasrallah, admitindo ao mesmo tempo que poderia suspender os lançamentos de foguetes. ¿ Se decidirem suspender os ataques a nossas cidades, civis e infra-estrutura, não dispararemos nenhum foguete a assentamentos ou cidades israelenses.

Esta foi a primeira vez que o grupo admitiu claramente ter condições atingir Tel Aviv, a 130 quilômetros da fronteira. Ontem foi o pior dia em baixas para Israel desde que o conflito começou, com 12 mortos. O Hezbollah lançou 160 foguetes ¿ 130 no período de uma hora ¿ contra o norte do país, matando oito civis: quatro na cidade de Ma¿alot e quatro em Akko. Além disso, quatro soldados morreram ontem, elevando o número de israelenses mortos no conflito para 67.

Beirute volta a ser bombardeada

Dez mil soldados já controlam uma faixa seis quilômetros dentro do Líbano, embora ainda haja resistência em algumas aldeias. O ministro da Defesa, Amir Peretz, deu ordens para o Exército se preparar para a nova fase da ofensiva: estender o controle até o Rio Litani, que passa de cinco a 30 quilômetros da fronteira. A medida, que depende de aprovação do Gabinete, incluiria a ocupação da cidade portuária de Tiro. Mas Israel pode se retirar com a chegada de uma força internacional, indicou o premier Ehud Olmert: ¿As tropas israelenses não deixarão de combater até que cheguem tropas internacionais¿, disse ele.

Após uma semana de relativa tranquilidade, a população de Beirute voltou a acordar sobressaltada na madrugada de ontem com os bombardeios. Os alvos foram mais uma vez bairros xiitas das regiões sul e oeste da cidade, mas os estrondos puderam ser ouvidos a quilômetros. No hotel onde está o repórter do GLOBO, a quatro quilômetros das explosões, as janelas chegaram tremer.

Além disso, a aviação israelense atacou alvos em Sidon (sul) e no Vale do Bekaa (leste). Pelo menos duas pessoas morreram em Tiro e uma terceira no vale. O governo libanês divulgou uma estimativa de 900 mortos e 3 mil feridos em 23 dias de guerra. Quase um milhão de pessoas tiveram que deixar suas casas, o que representa mais de um quarto da população libanesa. Segundo fontes, 80 integrantes do Hezbollah teriam morrido.

Beirute não era bombardeada desde quarta-feira. Isso trouxera uma relativa tranqüilidade aos moradores. Os bombardeios começaram por volta das 3h30m (horário local). E foram ouvidas pelo menos três explosões.

¿ Parece que eles fazem isso só para nos torturar. Não tem mais ninguém nos bairros xiitas ¿- disse o comerciante Mohamad Hamed.

No campo diplomático, a França fez circular ontem na ONU um texto de resolução pedindo o cessar-fogo imediato, mas seu próprio representante não estava otimista. Os EUA, por outro lado, viam a possibilidade de um acordo ser alcançado ainda hoje.

¿ Certamente gostaríamos de conseguir na sexta-feira, mas se não for possível, estamos preparados para continuar a trabalhar no fim de semana ¿ disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack .

Em Caracas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem que estava retirando seu embaixador em Israel. Chávez tem condenado os ataques israelenses.

Na Faixa de Gaza, forças israelenses mataram sete milicianos palestinos e um menino de 12 anos perto da cidade de Rafah, quando tropas israelenses buscavam túneis.

Com agências internacionais