Título: IRMÃ DIZ QUE FIDEL ESTÁ MUITO DOENTE
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Fonte: O Globo, 04/08/2006, O Mundo, p. 34
Vivendo na Flórida, Juanita Castro reclama das celebrações em Miami
MIAMI. Juanita Castro anda com um aperto no coração. Fidel, seu irmão mais velho, está mal de saúde. Corre risco de vida. Eles não se vêem desde 1964, quando ela deixou Cuba porque se decepcionou com a política que ele resolvera implantar no país. Nunca mais se viram, mas falaram por telefone algumas vezes ao longo dos anos.
Mas não nos últimos dias. E isso a aflige. Ontem de manhã contaram a ela, de Havana, que Fidel tinha sido removido do centro de terapia intensiva. Isso lhe trouxe alívio, mas a sua apreensão permaneceu alta.
¿ Ele está muito doente. Um homem com a idade dele sofrer algo assim... Uma cirurgia dessas, ah, não sei não... Só me resta rezar por ele ¿ disse Juanita ao GLOBO, num tom de voz que denunciava uma emoção impossível de camuflar.
Ligação para Cuba caiu e não pôde ser retomada
Ela estava preocupada com a falta de detalhes porque a conversa foi interrompida repentinamente e foi impossível retomá-la. Juanita negou-se a revelar a fonte. Mas disse que era alguém que sabe o que acontece com Fidel. Por isso, ela tinha certeza de que ele estava vivo.
¿ Houve um corte na ligação. Não sei se foi provocado lá ou aqui. O fato é que até agora eu não consegui me comunicar de novo. Só dá sinal de ocupado. Isso nunca aconteceu.
Juanita, de 73 anos, não tem filhos. Ela é dona de uma farmácia em Miami. A sua tranqüilidade aparente deu lugar à angústia assim que começou a falar do irmão ¿ ¿sim, temos diferenças ideológicas e políticas, mas... é meu sangue, me vêem à cabeça boas lembranças da nossa infância¿, disse ela.
¿ Discutimos algumas vezes por telefone por causa de política. As pessoas vinham me procurar aqui, pedir ajuda para libertar um familiar que se tornara preso político. Consegui soltar alguns ¿ revelou ela.
Depois de 42 anos fora de Cuba, Juanita não pensa em voltar a viver lá. Mas agora... sim, hoje ela iria para visitar o irmão, mas não voluntariamente:
¿ Se ele precisar de mim, eu vou. Mas desde que isso não seja usado para fortalecer o regime. Na verdade, eu não pensei direito sobre isso. Ainda não deu tempo. Isso envolve tantas questões... Se tiver que ir, se resolver ir, espero que me respeitem aqui, que entendam os meus motivos ¿ disse Juanita.
Há pouco mais de quatro décadas ela vive dividida entre a ideologia e o amor fraternal, bem acolhida por uns compatriotas e molestada por outros. O resultado é uma sensação de perda, acirrada agora com as notícias sobre a saúde de Fidel.
Juanita respeita a opinião dos cubanos exilados, concorda com eles em quase tudo. Mas não perdoa a euforia exibida por eles nos últimos dias:
¿ Há tanto ódio nessa comunidade. A comemoração está sendo exagerada. Não há respeito pelo ser humano. Noventa e nove por cento dos que dançam nas ruas de Miami por causa da desgraça de Fidel não tiveram a coragem de ficar em Cuba para lutar contra ele ¿ desabafou.
Quanto a Raúl, o outro irmão, alçado ¿ pelo menos temporariamente ¿ à chefia do governo cubano, ela foi comedida:
¿ São personalidades diferentes. Tomara que Raúl abra o caminho para uma mudança, tomara que leve a uma abertura. Mas não quero falar de política. Oxalá aconteça algo que seja o melhor para o povo de Cuba.