Título: CUBA PÕE AS FORÇAS DE SEGURANÇA EM ALERTA
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Fonte: O Globo, 04/08/2006, O Mundo, p. 34
Falta de notícias sobre Fidel e sumiço de Raúl Castro aumentam tensão e especulações sobre o futuro da ilha
HAVANA. O governo cubano reforçou e pôs em estado de alerta ontem os quadros de defesa, que incluem as Forças Armadas e grupos civis, anunciou ontem o jornal oficial ¿Granma¿. O motivo, segundo o jornal, seria uma eventual ofensiva dos Estados Unidos e dos exilados de Miami por conta da internação do presidente Fidel Castro e da transferência de poder para Raúl Castro. O ¿Granma¿ mencionou um comunicado do Partido Comunista, que aponta Raúl como ¿o único herdeiro de Fidel Castro¿.
As forças de segurança estão, segundo as autoridades, em ¿alerta combativo¿, mas o ambiente ontem em Havana era de calma, apesar da apreensão da população em relação ao estado de saúde do líder e ao que pode acontecer com o país.
Os militares, no entanto, fizeram questão de mostrar que estão prontos para qualquer eventualidade. Blindados foram fotografados em manutenção, milhares de reservistas foram convocados e a segurança em diversos bairros da capital recebeu reforço. Também foram organizados vários atos de apoio ao presidente em fábricas, empresas e praças públicas.
Partido Comunista Cubano organiza atos públicos
¿Os meios de combate estão prontos para nos defender¿, disse a manchete de ontem do ¿Granma¿, refletindo o clima que as autoridades pretendem passar para a população e principalmente ao exterior. Já os jornais menores do interior, também controlados pelo Estado, destacaram reportagens de tom patriótico, convocando a sociedade e os grupos armados a defenderem o país contra uma eventual invasão dos Estados Unidos.
Os Comitês de Defesa da Revolução (CDR) ¿ unidades de bairro que reúnem mais de sete milhões de pessoas e que são consideradas o grande aparelho de controle ideológico em Cuba ¿ convocaram todos os seus integrantes para treinamento e preparação militar.
¿ Convocamos os destacamentos para evitar as saídas ilegais, um pretexto sempre usado para provocar agressões ao nosso país. Foram convocadas sete milhões de pessoas para a defesa da pátria, tentando fazer com que haja um apoio incondicional à guerra de todo o povo ¿ disse o coordenador nacional dos CDR, Juan José Rabilero.
Os atos públicos, chamados de ¿reafirmação revolucionária em apoio aos irmãos Castro¿, são liderados por membros do alto escalão do Partido Comunista Cubano (PCC), como o presidente do Parlamento, Ricardo Alarcón, o único representante do Estado que até o momento falou sobre a saúde comandante, afirmando que ele está bem e consciente, e com ¿bom humor¿.
Fora do governo, a única informação foi passada por Juanita Castro, irmã de Fidel e exilada em Miami desde 1964, que disse que o líder cubano ¿saiu da unidade de terapia intensiva e aguarda para ver o que acontecerá¿.
A tensão e a expectativa, no entanto, crescem com o passar das horas e o silêncio de Raúl Castro e aumentam rumores. Um deles é do que Fidel já poderia estar morto. Analistas, no entanto, acham pouco provável que a falta de notícias seja um indício da morte do líder cubano.
Bush exorta povo a agir por mudança democrática
Em Miami, líderes cubanos da oposição concordam que a doença de Fidel representa uma oportunidade de forçar uma mudança política na ilha, e que se pode conseguir este objetivo com um levante civil ou militar. Congressistas cubano-americanos indicaram que, em poucos dias, os Estados Unidos farão anúncios sobre Cuba, incluindo mudanças em sua política migratória para a ilha. Ontem, em primeira declaração sobre o episódio, o presidente dos EUA, George W. Bush, exortou o povo cubano a ¿agir por uma mudança democrática na ilha¿.
¿ Nestes momentos de incerteza em Cuba, uma coisa está clara, os Estados Unidos estão totalmente comprometidos com as aspirações do povo cubano em favor da liberdade e da democracia ¿ disse o presidente.
Já o líder norte-coreano, Kim Jong-il, disse ontem que ¿espera, de todo coração, que ele (Fidel) se recupere o mais rapidamente possível¿.
Há dúvidas e expectativas de vários governos sobre a participação de Fidel ou de Raúl na Reunião de Cúpula dos Países Não-Alinhados, em setembro, na qual Cuba deve assumir a presidência da organização.