Título: ALIANÇA CONSTRANGEDORA
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 07/08/2006, O País, p. 3

Lula faz campanha com Newton Cardoso e deixa petistas embaraçados em Minas

Oprimeiro ato de campanha que levou ao mesmo palanque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador mineiro Newton Cardoso (PMDB), candidato ao Senado na coligação com o PT, foi marcado pelo constrangimento e pelo desconforto para os petistas. Foi no sábado à noite, em Belo Horizonte. Incluído na chapa em um acordo de cúpula dos dois partidos, com apoio do Palácio do Planalto, ¿Newtão¿, como é conhecido em Minas, é rejeitado não só pelos militantes como pelos candidatos do PT a deputado estadual e federal, que não colocam seu nome no material de campanha.

No comício de sábado à noite, no Chevrolet Hall, não havia sequer uma faixa com o nome de Cardoso. A maior parte dos 2,5 mil petistas presentes era formada por prefeitos e lideranças do PT , todos orientados a não vaiar o ex-governador. Mas toda vez que o nome dele era citado, em vez de aplaudir, a platéia ficava em silêncio. No comício de Lula também estava o ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe, investigado pela CPI dos Sanguessugas.

Lula teve de convencer suplente

Newton Cardoso foi adversário histórico do PT em Minas e não tem boa imagem entre os partidos de esquerda. Daí a reação de vários diretórios municipais, que se negam, também, a fazer campanha para ele.

O candidato a governador pelo PT em Minas, o ex-ministro Nilmário Miranda, foi um dos articuladores da aproximação com Newton Cardoso. O interesse do PT era também no tempo de TV a que o PMDB tem direito. Um dos principais críticos da aliança foi o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, que ficou no lado oposto a Newtão no palanque.

Para se ter uma idéia da resistência do PT a apoiar Cardoso, foi uma dificuldade encontrar um nome da legenda que aceitasse ser seu suplente para o Senado. Depois de muito esforço e conversa, Lula e Nilmário convenceram o petista Carlos Calazans, que ia se lançar a deputado estadual, a concordar com a missão. Calazans diz que não foi por vontade própria, mas que acatou uma decisão do partido.

¿ Não foi fácil aceitar. No início, então, foi complicado. Mas foi uma decisão do partido e cumpro tarefa ¿ disse Calazans.

O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) não esconde o constrangimento de ter Newton Cardoso aliado de seu partido.

¿ Não foi a melhor opção, mas vamos lá. Vou votar nele ¿ disse o deputado.

Nilmário faz campanha sozinho

Petista histórico e ex-prefeito de Belo Horizonte, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, também se mostra incomodado, mas prefere não atacar Cardoso diretamente. Por isso, Patrus desconversa.

¿ Estou longe do dia-a-dia da campanha em Minas. Estou lá em Brasília, cuidando do ministério. Como filiado, posso dizer que o PT tomou essa decisão (de apoiar Cardoso) e me disponho a acolhê-la ¿ disse o ministro.

O deputado estadual Roberto Carvalho, do PT, afirmou que a base do partido em Minas não quer nem saber de Newton Cardoso.

¿ Difícil de engolir ¿ resumiu o deputado mineiro.

Nilmário diz que a resistência a Cardoso vai se reduzir durante a campanha. Por causa dessas diferenças, Nilmário está fazendo campanha sozinho em municípios onde o PT não aceita o ex-governador.

Newtão rebate as críticas:

¿ Não vejo problema. Tem lugares que o PMDB também não aceita o PT e faço campanha sozinho. É gente que me apóia e também ao Aécio Neves (candidato do PSDB ao governo mineiro).