Título: BNDES DÁ IMPULSO A NEGÓCIOS NA AL
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 06/08/2006, Economia, p. 36

Banco apóia exportações e beneficia empresas que atuam na região

A América Latina ¿ o maior parceiro comercial direto do Brasil, com mais de 22% das vendas do país ao exterior ano passado ¿ vem impulsionando uma extensa cadeia de fornecedores de máquinas, equipamentos e serviços destinados a empresas brasileiras com projetos no continente. Dez grandes empreendimentos das áreas de energia e transporte, realizados por empreiteiras brasileiras em países da região, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), geram encomendas de US$287,4 milhões para 1.641 empresas, 70,7% delas de pequeno e médio portes.

¿ A maioria dos fornecedores são pequenas e médias empresas que não teriam como exportar individualmente. Elas usam a expertise das grandes empresas para garantir acesso a mercados e alavancar empregos e renda aqui ¿ afirma Luiz Antonio Dantas, superintendente da Área de Comércio Exterior do BNDES.

Com grandes interesses econômicos e de Estado em jogo, analistas acreditam que a integração regional é irreversível. E as perspectivas ainda são grandes: metade dos projetos em carteira no BNDES para a América do Sul já foi aprovada, mas outro tanto está em fase de análise e deverá alavancar novas encomendas no mercado interno.

E o próprio BNDES estará mais capitalizado, graças ao dispositivo incluído na Medida Provisória (MP) 315, que tornou a legislação do câmbio mais flexível e elevou o nível de financiamento da instituição.

Ganhos de empresas no continente são elevados

Apesar dos problemas ocorridos este ano com a Bolívia, que estatizou seu setor de petróleo e gás, as empresas brasileiras vêm obtendo ganhos elevados no continente. Marcelo Coutinho, cientista político do Observatório Político Sul-Americano (Obsa), do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), acha que esses ganhos econômicos compensam eventuais problemas políticos.

¿ As empresas brasileiras nunca exportaram tanto para a América do Sul. O governo também tem interesse em acesso a fontes de energia e em um outro canal para escoamento dos produtos pelo Pacífico, porque a economia mundial está crescendo mais na Ásia ¿ diz ele.

A Britanite-IBQ Indústrias Químicas, de Curitiba, é uma das que vêm mantendo o nível de atividade elevado com a produção para atender demanda de projetos brasileiros na América do Sul.

¿ Já exportávamos diretamente para o Equador, mas as encomendas da Odebrecht para a construção da hidrelétrica de San Francisco gerou novas oportunidades de exportarmos serviços agregados aos nossos produtos ¿ diz a gerente de Comércio Exterior da Britanite, Roxana Paz Morales.

A Britanite produz explosivos, que são exportados diretamente para países da América do Sul e Europa. Para o Equador ela levou também mão-de-obra e até unidades móveis (caminhões para bombear explosivos a granel para o local das explosões). Com 45 anos no mercado, a empresa aposta no setor externo para manter e ampliar o nível de atividade e de pessoal, hoje com 500 empregados.

¿ Competitividade, em licitação internacional, é um misto de financiamento e preço ¿ diz Dantas, do BNDES.

Os projetos financiados pelo BNDES e tocados por grandes construtoras, como Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiróz Galvão e ARG, estão inseridos na política de integração sul-americana, um dos pilares da política externa brasileira, informa Angela Carvalho, chefe do Departamento de Integração do BNDES. A Confab, fabricante de tubos e conexões, é uma das que têm conseguido manter elevada a sua produção porque vem fornecendo produtos para a construção de gasodutos, diz ela.

A área de integração foi criada pelo BNDES para fazer frente à política do governo Lula de promover negócios do Brasil com países do mesmo continente. Mas o banco ainda não tem em sua carteira nenhuma operação ativa com a Bolívia, informa Dantas, já que impõe uma série de condições para viabilizar a operação.