Título: FÁBRICAS PARADAS NO NORTE DE ISRAEL
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 06/08/2006, O Mundo, p. 46

Trabalhadores e clientes fugiram com medo do conflito

KIRYAT SHMONA, Israel. Além do medo dos foguetes, muitos moradores que optaram por permanecer na linha de fogo no norte de Israel temem ainda as conseqüências da paralisia econômica provocada pela guerra. Dezenas de hotéis, restaurantes e parques estão fechados e trabalhadores assustados fugiram, interrompendo a linha de produção de fábricas e estufas num prejuízo de que pode alcançar milhares de dólares. Nos kibutzim, as tradicionais fazendas coletivas israelenses, muitos suspenderam ou reduziram o trabalho na agricultura temendo os ataques do Hezbollah.

Pelo menos quatro foguetes já atingiram o kibutz Cabri, a dez quilômetros da fronteira. Cerca de 60% dos moradores fugiram e, segundo o diretor da comunidade, Yaron Hemel, a fábrica de autopeças, principal fonte de renda do kibutz, fechou as portas há três semanas No vizinho kibutz Adamit, a irrigação da colheita e o trabalho no campo, que duram entre oito e nove horas por dia, foram reduzidos a apenas duas. O brasileiro Mauro Sinovitz, responsável pela irrigação dos abacates, contou que a maioria dos funcionários foi embora. Mauro trocou Porto Alegre pelo norte de Israel há 30 anos e diz que já se acostumou com o barulho constante dos tiros e foguetes da artilharia israelense.

¿ Já nem entro mais no abrigo. Minhas filhas moram em Tel Aviv e eu e minha esposa acompanhamos tudo pela TV. Infelizmente vamos sofrer um impacto econômico grande com a crise. Ainda não sabemos o tamanho do prejuízo, mas além da colheita, temos ainda uma fábrica e um galinheiro fechados. Produzimos ovos que abastecem boa parte de norte. Mas operários tailandeses que cuidam das galinhas foram embora apavorados. Espero que tudo termine logo ¿ contou Sinovitz.

Para o comerciante Amir Bar-Lev, de 29 anos, a guerra destruiu a maior fonte de renda do norte do país, o turismo. Dono de um restaurante num tradicional cruzamento próximo a Kiriat Shmona, ele manteve as portas fechadas nas duas primeiras semanas do conflito e reabriu o negócio há uma semana. A clientela hoje se resume a soldados.