Título: VOTAR CONSCIENTEMENTE
Autor: D. EUGENIO SALES
Fonte: O Globo, 05/08/2006, Opinião, p. 7

OConcílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Pastoral ¿Gaudium et Spes¿, nos ensina: ¿Todos os cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e especial na comunidade política. Devem se distinguir pelo exemplo, porquanto estão obrigados por consciência a desenvolver em si o senso da responsabilidade e do devotamento ao bem comum (...), promover o bem comum, ao qual nunca é lícito antepor o interesse próprio¿ (nº 75).

Caiu sobre nosso povo uma imensa desilusão relativa aos políticos, pela atitude de não poucos que se servem do mandato, antepondo o próprio bem ao bem comum. Ao descalabro provocado pelos desvios de dinheiro público, em benefício próprio ou da família, veio acrescer a desconfiança que ameaça seriamente o país.

A Encíclica ¿Veritatis Splendor¿, ¿O Esplendor da Verdade¿, do Servo de Deus João Paulo II, com data de 6 de agosto de 1993, ao tratar de ¿A moral e a renovação da vida social e política¿, entre outras, como exigências morais objetivas de governos dos Estados, afirmou: ¿A transparência na administração pública (...) e o uso justo e honesto do dinheiro público.¿ E alertou para ¿o risco da aliança entre democracia e relativismo ético, que tira à convivência civil qualquer ponto seguro de referência moral¿ (nº 101).

Recordo os ensinamentos do Concílio Vaticano II: ¿Todos os cidadãos se lembrem, portanto, do direito e simultaneamente do dever que temos de fazer uso do voto livre em vista da promoção do bem comum¿ (¿Gaudium et Spes¿, nº 75). Os Bispos do Brasil, reunidos na 44ª Assembléia Geral da CNBB, publicaram, com data de 16 de maio último, uma ¿Declaração sobre o momento eleitoral¿. Destaco o seguinte: ¿Voto não tem preço, tem conseqüências¿ e ¿Vote conscientemente e não anule seu voto¿.

Sem negar o mal existente, busquemos despertar as esperanças. Procuremos com objetividade ir às causas. Estamos às vésperas de uma eleição. O eleitor tem sua parcela de culpa, pois cada parlamentar é eleito pelo voto livre e secreto. É oportuno lembrar: em 16 de maio de 1998, o Papa João Paulo II recebeu um grupo de senadores e deputados da Pastoral Parlamentar Católica do Brasil, presidido pelo então vice-presidente da República, senador Marco Maciel. Transcrevo alguns tópicos do discurso do Santo Padre, muito oportuno para superar a atual crise, promovendo uma renovação do Congresso. Disse João Paulo II: ¿Diante de uma contínua agressão de um materialismo anticristão que se propaga em muitos setores da sociedade, faz-se ainda mais urgente o compromisso do fiel cristão, por uma coerência sempre maior na gestão da vida pública (...). Por isso, a Igreja não cessa de implorar de Deus a graça de que não venha a faltar nunca a retidão nas consciências humanas, que não se embote a sua sensibilidade sã diante do bem e do mal¿ (Encíclica ¿Dominum et Vivificantem¿, nº 47). E acrescentou: ¿A vós, políticos de uma nação de eminente tradição católica, cabe a importante incumbência, como cidadãos livres e responsáveis, de zelar pela correta aplicação dos princípios morais que, baseados na lei natural, acham-se confirmados na Revelação. Sobre estes princípios apóia-se o verdadeiro bem de toda a sociedade. A mesma Igreja não cessa de orientar as consciências, sem jamais interferir nas opções políticas concretas tomadas livremente, pois não é esta a sua missão.¿

O Santo Padre, neste discurso, exortou os parlamentares católicos e certamente os outros de boa vontade: ¿Entre as vossas missões, uma das mais importantes é, sem dúvida, o aperfeiçoamento permanente do corpo legislativo, a fim de que as leis estejam ao serviço da vida e de todas as pessoas. Uma legislação positiva não pode ser constituída independentemente do respeito à lei natural e aos valores morais fundamentais. Em nome do princípio democrático, não se pode questionar a dignidade inalienável de todo ser humano.¿ Aludiu o Santo Padre ao esforço por defender os princípios que têm sua origem no Evangelho da vida e acrescentou: ¿Sei bem que não vos é fácil pô-los em prática dentro da Assembléia Legislativa, no contexto do pluralismo parlamentar. Por exemplo, o direito à vida desde a concepção; o da dignidade da família e o da educação religiosa.¿

Como agir? Votar! Não se omitir, dando cada um sua contribuição na escolha de dirigentes dignos. Para isto, deve-se examinar o comportamento de cada candidato. Assim, não é digno do seu voto quem se esquiva de proclamar em público sua posição contra o aborto, a favor do ensino religioso nas escolas e da indissolubilidade do matrimônio, da doutrina social da Igreja e, evidentemente, de ser honesto!

D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio.

Não se omitir, dando cada um sua contribuição na escolha de dirigentes dignos