Título: Míssil do Hezbollah cai a 40 km de Tel Aviv
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 05/08/2006, O Mundo, p. 40

Israel ignora ameaça da guerrilha e amplia ataques a Beirute, deixando a capital libanesa praticamente isolada

OHezbollah disparou ontem três mísseis de longo alcance contra Israel, que caíram na região de Hadera, a 40 quilômetros de Tel Aviv, no mais distante ataque já feito pela guerrilha libanesa. Outros 130 foguetes caíram no norte israelense matando três pessoas. O 24º dia de combates foi marcado ainda pela extensão dos ataques aéreos em Beirute, que destruíram quatro pontes ao norte da cidade, que ficou praticamente isolada. Os bombardeios ao Líbano deixaram 40 mortos.

Dois foguetes de longo alcance Khaibar 1 caíram em áreas desabitadas de Hadera, cidade a 80 quilômetros da fronteira com Líbano, enquanto outro atingiu uma comunidade rural vizinha, sem deixar vítimas. Mas foi o suficiente para lembrar a ameaça feita um dia antes por Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, de disparar contra Tel Aviv se os ataques avançassem em Beirute.

- Nós estávamos na varanda quando ouvimos a sirene - contou um morador. - Que explosão! Eu estremeci.

O ataque fez o Exército israelense distribuir instruções de emergência às populações ao sul da cidade de Haifa, o que inclui Tel Aviv e representa mais de um milhão de pessoas.

Na madrugada, bombardeios haviam voltado a castigar a capital libanesa, atingindo pela primeira vez bairros de maioria cristã. Os alvos foram quatro pontes em Mamelten, Cassino, Batrum e Biblos. Os estragos dificultaram o acesso de Beirute às regiões norte e leste do país. Pelo menos quatro pessoas morreram.

- Somos cristãos, não temos ligação alguma com o Hezbollah - protestou Nabil Schaigiri.

Os bombardeios bloquearam a principal rodovia que liga Beirute a Trípoli. A estrada era até ontem a única grande via de saída rumo à Síria e entrada de ajuda humanitária. Agora a viagem só pode ser feita por estreitas vias vicinais que aumentam o trajeto em duas horas.

- A estrada era é o cordão umbilical do Líbano. Tem sido o único caminho para levarmos ajuda - lamentou Christiane Berthiaume, do Programa Mundial de Alimentos.

A principal estrada que liga Beirute ao Vale do Bekaa, onde moram muitos brasileiros, também foi destruída.

Bombardeio mata trabalhadores agrícolas

O ataque mais violento ocorreu perto de Qaa, no vale. Trabalhadores foram atingidos quando carregavam caminhões de frutas. Trinta e três pessoas morreram e 20 ficaram feridas. O Exército israelense disse que o alvo eram dois depósitos de armas. Outro ataque matou sete pessoas em Taibeh. Segundo as autoridades, cerca de 57 pessoas estavam presas sob escombros em Taibeh e Ayta a-Shab.

Nos combates em terra, em que Israel tenta expandir uma zona de controle que já inclui 20 aldeias, guerrilheiros do Hezbollah mataram três soldados perto de Markaba. Sete guerrilheiros também teriam morrido, segundo Israel.

Enquanto isso, EUA e França tentavam superar divergências quanto a uma proposta de resolução do Conselho de Segurança, para estabelecer um cessar-fogo, apoiado por uma força de paz no sul do Líbano. Segundo fontes, um acordo pode ser alcançado neste fim de semana.

- Há ainda questões que não resolvemos, mas acho que chegamos um pouco mais perto - disse o embaixador americano, John Bolton.

Em outra frente de combate, soldados israelenses mataram três palestinos na Faixa de Gaza. Pelo menos 164 palestinos morreram desde o início da ofensiva, em 28 de junho, em represália ao seqüestro de um soldado israelense.

A estrada era o cordão umbilical do Líbano. É o único caminho para levar ajuda

CHRISTIANE BERTHIAUME

Da ONU, sobre o bombardeio da estrada Beirute-Trípoli

Há ainda questões que não resolvemos, mas chegamos um pouco mais perto

JOHN BOLTON

Embaixador americano na ONU,sobre a resolução do cessar-fogo

Com agências internacionais