Título: Cuba estaria sendo dirigida por junta de seis
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Fonte: O Globo, 05/08/2006, O Mundo, p. 42

Segundo 'El Pais', grupo está assessorando Raúl Castro, que permanece desaparecido e estaria em depressão

HAVANA. Cuba pode estar sendo dirigida por uma junta de seis assessores, designados por Fidel Castro para auxiliar seu irmão Raúl. A informação foi divulgada ontem pelo jornal espanhol "El Pais". O irmão de Fidel, segundo o jornal "La Vanguardia", ainda não apareceu em público porque está deprimido devido a uma grave doença de sua mulher, Vilma. Já o governo cubano reafirmou ontem no "Granma", jornal oficial do país, que Raúl está à frente do governo.

O núcleo dirigente de seis pessoas, segundo analistas consultados pelo "El Pais", teria sido designado há anos por Fidel Castro para apoiar seu irmão na hipótese de troca de poder. O grupo seria uma mistura sutil entre a velha guarda do castrismo e uma nova geração de líderes partidários e governamentais.

Grupo tem como meta garantir continuidade

Entre eles estariam José Ramon Machado Ventura, de 75 anos, um dos fundadores do Partido Comunista Cubano (PCC); José Ramon Balaguer, de 74 anos, outro veterano do comunismo mais ortodoxo; o vice-presidente Carlos Lage, de 54 anos, artífice das reformas econômicas dos anos 1990; o presidente do Banco Central, Francisco Soberon, de 62 anos, que acaba de entrar no Comitê Central do PCC; e o jovem chefe da diplomacia cubana, Felipe Perez Roque, de 41 anos, que por sete anos foi secretário particular de Fidel. O objetivo deles seria, junto com Raúl, garantir a continuidade do governo comunista.

- Trata-se de uma equipe destinada à continuidade e não a uma transição. Eles parecem estar fazendo um grande esforço para preencher o sentimento de vazio político - disse um diplomata ocidental que pediu para não ser identificado, que acrescentou que Raúl estaria sendo preparado para sua aparição pública.

A manutenção da estabilidade política tornou-se esta semana a prioridade para o governo, que invocou o perigo americano para ativar os sistemas de defesa e pôr o país em "estado de alerta combativo" e declarou que "a palavra transição não está no vocabulário."

Os opositores, segundo analistas, estão sob uma "vigilância revolucionária permanente" e não têm condições de organizar um movimento de protesto popular. No entanto, as Forças Armadas Revolucionárias (FAR), o Exército cubano, abriga jovens oficiais favoráveis a uma evolução do regime, mas pouco dispostos a se arriscar.

Jornalistas estão tendo visto negado e ontem a CPJ, entidade americana que fiscaliza a liberdade de imprensa no mundo, divulgou um protesto pela recusa de permissão entrada de pelo menos 150 repórteres de vários países.

Os rumores sobre o novo governo são tão numerosos quanto os comentários sobre o estado de saúde de Fidel Castro, cujo paradeiro é desconhecido. Ontem, o ministro da Saúde cubano, José Ramón Balaguer, declarou na Guatemala que Fidel "está se recuperando satisfatoriamente" da cirurgia a que foi submetido. O ministro, que foi à Guatemala para participar do ato de inauguração de um hospital, recusou-se, no entanto, a dar mais detalhes sobre o estado de saúde do presidente.

Em entrevista a rede de TV CNN, Alina Fernandez, filha do Fidel que vive nos EUA, disse que conversou por telefone com a mãe, que continua em Cuba, e soube que Fidel teria caminhado ontem.

A Igreja Católica cubana pediu a seus fiéis que rezem pela saúde do presidente. Já secretária de Estado americana, fez mais um declaração voltada para a população cubana:

- Quero que os cubanos saibam que estamos observando atentamente o que está acontecendo e estamos prontos para dar apoio e suporte aos seus desejos de liberdade.

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