Título: Bradesco tem novo lucro recorde
Autor: Aguinaldo novo
Fonte: O Globo, 08/08/2006, Economia, p. 21

O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 3,132 bilhões no primeiro semestre deste ano, 19,5% a mais do que o obtido até junho de 2005. Foi o melhor resultado para o período na história dos bancos no país, segundo a consultoria Economática, superando os R$ 2,958 bilhões embolsados pelo Itaú. O Bradesco não faz feio também quando a comparação envolve empresas financeiras e não-financeiras em toda a América Latina. De uma amostra com os dez maiores lucros de janeiro a junho, a instituição só perde para a Vale do Rio Doce (US$ 2,814 bilhões, contra US$ 1,447 bilhão do banco) e para a America Movil (US$ 1,843 bilhão), do mega-empresário mexicano Carlos Slim. O Itaú vem em quarto, com US$ 1,367 bilhão pelo câmbio de 30 de junho.

Ainda segundo a Economática, desde 2004 o Bradesco tem superado ano a ano seus próprios recordes (no caso do Itaú, o balanço não pára de melhorar desde 2003). Por trás desse desempenho está o ganho crescente com as operações de crédito, em especial para pessoas físicas, que embutem spreads (diferença entre o custo do dinheiro para o banco e os juros pagos pelos clientes) de até 40% ao ano.

A carteira de empréstimos do Bradesco, incluindo avais e fianças, variou 30,2% e chegou a R$ 102 bilhões em junho. O crédito à pessoa física, que respondeu por uma fatia de 36,82% do saldo total, cresceu 5,2% no segundo trimestre e quase 40% nos últimos 12 meses. Como ocorreu no caso do Itaú, a explosão dos financiamentos levou junto para o alto os indicadores de inadimplência e as provisões para os chamados devedores duvidosos.

Inadimplência em alta não inibe banco

A inadimplência de pessoa física passou de 5,4%, em dezembro de 2005, para 6,8% em junho deste ano. Esses números consideram os empréstimos vencidos há mais de 59 dias. Já as provisões para eventuais perdas subiram 31,1% desde junho de 2005, alcançando saldo de R$ 5,8 bilhões ¿ R$ 1,1 bilhão acima do mínimo estipulado pelo Banco Central (BC).

Ainda assim, o Bradesco não fala em reduzir o ritmo de liberação de empréstimos. O presidente do banco, Marcio Cypriano, afirmou ontem que o aumento da inadimplência era previsto e que os spreads cobrados têm garantido retorno financeiro. Como prova, ele cita o resultado da margem financeira líquida nas operações de crédito, que já considera o custo das despesas com devedores duvidosos. O ganho no segundo trimestre foi de R$ 1,711 bilhão, só inferior ao do quarto trimestre de 2005 (R$ 1,733 bilhão).

¿ Não vemos necessidade de desacelerar (na aprovação de novos financiamentos) e não sentimos queda na demanda. Dar crédito em massa exige experiência, e isso o banco tem ¿ afirmou o presidente do Bradesco.

O banco manteve a previsão de aumento entre 20% e 25% da carteira total de crédito. No segmento de pessoa física, essa variação pode chegar a 35%, enquanto o crédito a empresas ficaria limitado no ano a 20%.

Executivo rebate críticas de Mantega

Cypriano rebateu ainda as críticas do ministro Guido Mantega (Fazenda) e reafirmou que os bancos estão repassando para o consumidor a queda da taxa básica de juros, a Selic. O problema, segundo ele, é que as reclamações consideram apenas as taxas cobradas no cheque especial e no cartão de crédito ¿ que por sua natureza (o banco não sabe em que o consumidor vai gastar o dinheiro emprestado) têm risco maior.

¿ O nosso cliente paga hoje 74% ao ano no crédito pessoal, contra 85% um ano atrás. No crédito de veículos, a taxa caiu de 36% para 28% ¿ disse ele, que também preside a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

Cypriano insistiu no corte do recolhimento compulsório sobre depósitos à vista, que obriga os bancos a manter sem remuneração no BC 45% do total. Segundo ele, os juros poderiam recuar mais rapidamente se o governo mexesse no compulsório.

¿ Somos favoráveis à redução dos juros. Mas a taxa ao consumidor não depende só da Selic ¿ afirmou ele.

Na semana passada, o ministro da Fazenda afirmou que o governo já implementou várias medidas para reforçar a segurança no sistema de crédito, como a nova Lei de Falências e a alienação fiduciária. Mantega acrescentou que o compulsório não era desculpa para o setor financeiro não diminuir os juros e os spreads embutidos nas operações de empréstimo.