Título: Pressão árabe sobre a ONU
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 08/08/2006, O Mundo, p. 27

Correspondente NOVa YORK

Elogiado nos bastidores por Israel e veementemente repudiado pelos países ass='destaque2'>árabes, o projeto de resolução da onu exigindo um cessar-fogo no Oriente Médio teve sua votação adiada ontem, numa tentativa de evitar que a organização tome mais uma medida inócua. O Conselho de Segurança decidiu esperar a delegação da Liga ass='destaque2'>árabe que dirá hoje na onu ser impossível um cessar-fogo sem que as tropas de Israel abandonem o território libanês, sem uma troca de prisioneiros e sem a desocupação das Granjas de Shebaa (área que Israel confiscou na Guerra dos Seis Dias, em 1967). Nenhum dos três pontos consta do projeto de resolução, fruto de um acordo entre EUa e França após semanas de intensa ass='destaque1'>pressão para que o Conselho agisse no sentido de pôr fim à guerra, que somente ontem deixou mais 55 libaneses mortos, além de três soldados israelenses.

O envio de uma delegação da Liga ass='destaque2'>árabe foi decidida após um apelo emocionado do primeiro-ministro do Líbano, Fouad Siniora, aos ministros do Exterior dos países ass='destaque2'>árabes. Na bagagem, eles levam o plano de Siniora para o cessar-fogo e a notícia de que o Líbano concorda em enviar 15 mil soldados à zona de conflito, quando Israel sair ¿ algo que há muito era pedido pela comunidade internacional.

¿ O projeto de resolução tem um tom discriminatório que não aceitamos. a presença de soldados israelenses em terra libanesa significa que é um exército de ocupação ¿ disse na onu Yahya Mahmassani, o enviado da Liga ass='destaque2'>árabe.

O embaixador da França, Jean-Marc Sablière, defendeu o projeto de resolução, mas anunciou que a França era a favor de fazer constar do texto a exigência de as tropas israelenses saírem do Líbano. Os americanos, menos conciliadores, apenas concordaram em adiar a votação para ouvir as exigências dos países ass='destaque2'>árabes e o embaixador John Bolton lembrou que o presidente George W. Bush pediu urgência na votação.

¿ as divergências são menores do que podem parecer ¿ disse a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.

Quinze países ¿ incluindo Brasil, Chile e Malásia ¿ consideram a possibilidade de participar de uma força de estabilização no Líbano.

Líbano começa a convocar reservistas

Se os esforços diplomáticos fracassarem, Israel poderá ampliar sua ofensiva.

¿ Dei uma ordem inequívoca para que, se fracassar o processo diplomático, o Exército atue em todo o território libanês ¿ disse ontem o ministro da Defesa, amir Peretz, à Comissão de Relações Exteriores do Parlamento de Israel.

Em Beirute, reunido com ministros dos países ass='destaque2'>árabes, Siniora chegou a chorar ao falar do sofrimento dos civis libaneses. Ele pediu um cessar-fogo ¿rápido e decisivo¿.

¿ Não se pode questionar a identidade ass='destaque2'>árabe do Líbano ¿ disse Siniora, com a voz embargada. ¿ Não aceitamos mais que o Líbano seja um campo de batalha para os combates de outros.

O Líbano já começou a convocar reservistas para enviar ao sul assim que Israel sair, numa decisão tomada por unanimidade pelo governo. Segundo o ministro da Cultura, Tarek Mitri, a medida ¿conta com o compromisso¿ do Hezbollah.

¿ Nosso governo crê que é uma proposta muito séria. É uma saída ¿ disse Mitri.

Enquanto isso o país, e mesmo a capital, eram sacudidos por bombardeios. Num dos ataques mais mortíferos, um prédio no sul da capital foi destruído, matando 15 pessoas e ferindo 30. Equipes de resgate usavam escavadeiras e as próprias mãos para cavar, enquanto carros de bombeiros apagavam ruínas em chamas.

Das dezenas de mortes ontem, 40 ocorreram no sul do país e no Vale do Bekaa. além disso, Israel disse ter abatido um avião não-tripulado do Hezbollah. Os bombardeios destruíram a última ponte costeira entre Sídon e Tiro, cortando a principal via de envio de ajuda humanitária. a OMS advertiu que 60% dos hospitais do país podem parar de funcionar se não receberem logo combustível. O Hezbollah anunciou ter perdido mais dois combatentes e Israel, três.

Em outra frente, Israel prendeu no domingo aziz Dweik, presidente do Parlamento palestino. Dweik foi levado ontem para um hospital com dores no peito e problemas respiratórios.

Com agências internacionais