Título: base de largada
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 09/08/2006, O Globo, p. 2

As pesquisas que serão divulgadas até o dia 15 indicarão o patamar de largada dos candidatos a presidente para a etapa decisiva da campanha na televisão. A pesquisa CNT-Sensus divulgada ontem sugeriu que o presidente Lula largará em situação bastante confortável (esta coluna fechou antes da divulgação da pesquisa Datafolha).

de todo modo, ainda faltam sete dias para a estréia. Os programas, teoricamente, podem consolidar ou subverter vantagens, a depender de seu conteúdo e eficácia, do surgimento de fatos novos e do impacto que terão sobre os eleitores. Sobre isso, há controvérsias entre os analistas.

Segundo a pesquisa CNT-Sensus, Lula cresceu na consulta estimulada de 44,1% para 47,9%, entre julho e agosto. A pesquisa captou também uma melhora na avaliação do governo, diferentemente do que apurou o Ibope na semana passada. Alckmin teria perdido 7,5 pontos percentuais (caindo de 27,2%, em julho, para 19,7% agora). Já a senadora Heloísa Helena teria subido de 5,4%, em julho, para 9,3% agora.

Na semana passada, quando o Ibope apontou queda de dois pontos nos índices de Alckmin e igual crescimento da senadora Heloísa Helena, Cesar Maia e outros aliados rechaçaram a interpretação de que ela estaria tomando votos do tucano. Essa mesma explicação foi dada ontem por Ricardo Guedes, do Instituto Sensus: eleitores anti-Lula, descrentes da vitória de Alckmin, estariam transferindo o voto para a candidata do PSOL. Ele apontou, ainda, possíveis erros de comunicação e eventuais efeitos da crise de segurança de São Paulo. Mas esses últimos ataques aconteceram depois da pesquisa fechada e os anteriores resultaram em perdas tanto para Lula como para o ex-governador do estado. O Datafolha, sim, foi a campo depois dos ataques e ontem, durante o dia, ainda entrevistava eleitores.

A idéia de que a senadora só cresce entre os indecisos não encontra destaque1'>base nos números da pesquisa CNT-Sensus. Os indecisos, brancos e nulos seriam 20,9% agora, contra 20% em julho. Se até aumentaram ¿ o que soa estranho, mas pode acontecer em momentos de acomodação de tendências ¿ não foi entre eles que a senadora pescou seus 3,9 pontos de crescimento.

Nos últimos dias houve ainda o alastramento do escândalo dos sanguessugas e o escabroso caso de Rondônia. Com os sanguessugas, foram atingidas figuras ligadas a Lula, como os ex-ministros da Saúde Humberto Costa e Saraiva Felipe. Agora, o deputado Fernando Gabeira, mesmo sem provas, acusa também os ex-ministros de Ciência e Tecnologia Eduardo Campos e Roberto Amaral, do PSB, de cumplicidade com o esquema. Mas apareceram também sanguessugas do PFL e do PSDB, e o PPS está no centro do escândalo de Rondônia. Esse alastramento das denúncias entre os partidos pode acabar fazendo da questão ética um elemento neutro na disputa. Lamentável, mas é da lógica eleitoral.

A televisão dará ressonância a tudo, inclusive ao que já vai sendo esquecido. Mas Carlos Augusto Montenegro, diretor-presidente do Ibope, subestima o impacto eleitoral que terão os programas. Lembra que os candidatos a presidente vão aparecer apenas três vezes na semana: aos domingos, às terças e às quinta-feiras, pela manhã e à noite. Os programas matinais sempre tiveram audiência baixa. As pessoas estão se deslocando ou já trabalhando. Lula terá três comerciais e Alckmin quatro, exibidos ao longo do dia.

Já a analista Fátima Jordão acha que a televisão será decisiva e pode mudar as tendências do patamar de largada. Os eleitores, diz ela, estão confusos com tudo que tem acontecido. Basta ver o índice de indecisos. E, por isso, vão prestar muita atenção aos programas, fazer comparações e tirar dúvidas antes de se decidirem.