Título: Operação Tigre prende 35 pessoas
Autor: Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 09/08/2006, Economia, p. 26

SÃO PAULO. Depois de oito meses de investigações, a Polícia Federal prendeu ontem 35 pessoas envolvidas em operações ilegais realizadas no mercado de câmbio. As prisões foram feitas em três estados: São Paulo (23), Minas Gerais (8) e Goiás (4). Os presos não tiveram suas identidades reveladas porque o processo corre em segredo de Justiça mas, segundo a Polícia Federal, são doleiros, donos de empresas de turismo além de outras pessoas que intermediavam as operações de envio ilegal de dólares para o exterior.

A operação tigre, como foi batizada, mobilizou mais de 400 policiais federais ¿ 54 equipes só em São Paulo ¿ e teve apoio da Receita Federal e do Ministério Público Federal de São Paulo, que conseguiu na Justiça a decretação da prisão dos envolvidos. Ao todo, foram expedidos 49 mandados de prisão, e outros membros da quadrilha ainda devem ser detidos.

Algumas operações eram feitas por dólar-cabo

As investigações da Polícia Federal começaram em dezembro de 2005 e se concentraram em um grupo de doleiros de pequeno e médio portes que, além das transações de balcão com papel-moeda, atuavam também em operações conhecidas como dólar-cabo, pelas quais as transferências são feitas para o exterior sem a remessa física de dólares. Os doleiros valiam-se de uma rede de laranjas (intermediários) e empresas de fachada para movimentar valores dentro e fora do país.

De acordo com a Polícia Federal, os doleiros trabalhavam em células independentes no varejo, mas seus negócios se interligavam no fim do dia, numa espécie de consolidação dos valores para remessa.

¿ As células funcionavam como se estivessem operando em um mercado legal, com fechamentos diários ¿ disse Ricardo Saadi, da Delegacia de Crimes Financeiros e um dos coordenadores da operação tigre.

Doleiros eram envolvidos com casos antigos

A partir da prisão de doleiros que operavam sem autorização do Banco Central (BC) em uma empresa de turismo de Guarulhos (SP), a Polícia Federal começou a descobrir ramificações até chegar a uma rede que encobria operações de remessas ilegais de dólares de pessoas físicas e de empresas exportadoras. Esses clientes utilizavam os serviços dos doleiros para remeter ao exterior dinheiro de origem ilegal.

Segundo o procurador do Ministério Público Federal (MPF), Silvio Luiz Martins de Oliveira, responsável pelo caso, alguns doleiros presos tiveram no passado ligações com grandes operadores de lavagem de dinheiro do mercado paralelo de câmbio, como Toninho da Barcelona, preso em outra operação da Polícia Federal, a Farol da Colina, em agosto de 2004, e condenado pela Justiça.

Segundo Oliveira, três dos envolvidos no esquema de remessas ilegais ainda mantinham ligação com o doleiro. Entre eles, Hu Zhon Ngwei, funcionário da Câmara de Comércio Brasil-China, que se valia do cargo para intermediar remessas de empresas, e foi preso ontem.

O esquema desbaratado servia para lavar recursos obtidos com importações e exportações fraudulentas de mercadorias.

Dos 78 mandados de busca e apreensão emitidos, os policiais federais conseguiram recolher nas empresas e escritórios dos doleiros e seus clientes uma farta documentação, além de computadores e uma quantidade não especificada de dólares, euros e reais.

Prisões na PF serão por, no mínimo, cinco dias

A Polícia Federal começa agora a analisar toda a documentação recolhida e a interrogar os presos. Eles devem ficar na custódia da PF em São Paulo inicialmente por cinco dias, mas esse prazo pode ser alterado.

Em Minas Gerais, a Polícia Federal esteve em uma casa de câmbio no Edifício Duque de Caxias, na Avenida Amazonas, no centro de Belo Horizonte, onde foram feitas apreensões de material para investigação.