Título: subir o fogo
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 10/08/2006, O Globo, p. 2
Diante da retração das intenções de voto em Geraldo Alckmin, apontada pelas pesquisas CNT-Sensus e Datafolha, a campanha tucano-pefelista começou a reagir ontem mesmo, intensificando o discurso contra a corrupção e associando Lula ao descalabro ético. Na campanha do presidente, a ordem é conter a euforia e manter os preparativos para o segundo turno (trabalhando para que ele não ocorra).
Evitou-se ao máximo, na campanha tucana, dar o braço a torcer depois do crescimento animador entre junho e julho, graças aos programas de televisão. Mas admitem, de forma velada, erros de comunicação, à medida que o conselho político recomendou a retomada dos ataques a Lula na questão ética. ontem mesmo, o candidato anunciou um pacote de propostas contra a corrupção e retomou os ataques contra Lula e seu governo. Esta será a tônica de seus primeiros programas de televisão.
¿ Sempre trabalhamos com a idéia de que a próxima janela de crescimento viria a partir do dia 15, com os programas de grande alcance. Alckmin voltará a crescer, não há dúvida ¿ diz o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra.
A aposta na televisão pode esbarrar, entretanto, no relativo interesse do eleitorado pelos programas eleitorais. o Globo online está perguntando aos internautas se levam em conta o horário eleitoral na hora de decidir o voto. Até ontem, a enquete havia obtido 76,13% de respostas ¿não¿ e 23,87% de respostas ¿sim¿.
Entre petistas e aliados de Lula notava-se ontem o esforço para disfarçar a euforia. o presidente do PT, Ricardo Berzoini, dizia não haver nada de novo nas duas pesquisas.
¿ os índices do presidente sempre variaram entre 40% e 46% de intenções sólidas de voto, o que não garante vitória no primeiro turno. A campanha seguirá o planejamento para dois turnos. Nossa prioridade agora é mobilizar militância e movimentos sociais e buscar a maior eficiência possível na televisão, mostrando os bons resultados do governo.
Mas algo na pesquisa tanto desanimou os tucanos como entusiasmou os petistas: o fato de Lula, desta vez, ter subido juntamente com a avaliação do governo, e de ter avançado em áreas onde Alckmin vinha crescendo: geograficamente, no Sudeste e no Sul, onde Alckmin perdeu, respetivamente, seis e oito pontos percentuais, enquanto Lula cresceu quatro e seis pontos. Na estratificação social deu-se algo parecido, com Alckmin perdendo oito pontos percentuais entre os que ganham entre cinco e dez salários-mínimos e dez pontos percentuais entre eleitores de nível superior. os pesquisadores dizem não ser possível saber o movimento dos votos. Parte deles pode estar sendo recuperada por Lula, mas é visível que Heloísa Helena avança nos segmentos anti-Lula que inicialmente fecharam com o tucano.
o caso do Rio de Janeiro explicita esse movimento recente, segundo o Datafolha. Lula foi de 40% para 45%. Alckmin caiu de 22% para 14%, Heloísa Helena subiu de 15% para 20%, firmando-se no segundo lugar. Alckmin não parece ter alternativa senão elevar o tom dos ataques, fustigando Lula e o governo no ponto mais vulnerável, os casos de corrupção.