Título: Exportar importa no emprego
Autor: Eliane Oliveira e Flávia Barbosa
Fonte: O Globo, 10/08/2006, Economia, p. 31

BRASÍLIA E RIO - Empresas exportadoras e que investem em inovações tecnológicas foram as que mais empregaram na primeira metade dos anos 2000 ¿ com 932.508 mil vagas formais geradas entre 2000 e 2004 ¿ ou 18,6% dos postos criados no período, estimados em cerca de cinco milhões. São elas que também garantiram melhores remunerações no país, segundo o livro ¿Brasil: o estado de uma nação¿, lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Firmas que inovam e diferenciam produtos pagam um salário 12,07% superior ao das demais, enquanto as exportadoras garantem uma remuneração 24,7% maior do que as que não vendem no exterior.

As empresas exportadoras classificadas como contínuas (que atuaram internacionalmente de maneira ininterrupta no período) criaram 443.892 empregos entre 2000 e 2004, uma alta de 17,1%, enquanto as inovadoras de tecnologia foram responsáveis pelo aparecimento de mais 488.416 postos de trabalho, um acréscimo de 28,7%.

¿ Isso mostra que é cada vez mais urgente consolidar a consciência de que é necessário inovar, adquirir competitividade no mercado internacional, para que o país possa crescer e gerar empregos ¿ disse o presidente do Ipea, Luiz Henrique Proença.

Outro dado que chama a atenção é que as multinacionais empregam um em cada 20 trabalhadores brasileiros. Além disso, uma indústria estrangeira instalada no Brasil paga 38,3% mais do que uma firma idêntica, mas controlada por capital nacional.

Inovar em tecnologia não significa demitir

Os técnicos do instituto destacam, no estudo, que está mais do que comprovado que o comércio internacional tem impactos extremamente positivos sobre o emprego. E sugerem que todas as ações possíveis para ampliar o universo de exportadores sejam tomadas. Principalmente, manter as firmas no mercado internacional. Pela pesquisa, as firmas que desistiram do mercado externo demitiram 9,6% mais empregados do que aquelas que nunca exportaram.

¿Todos esses números estão evidenciando que empresas mais dinâmicas do ponto de vista tecnológico e mais competitivas acabam remunerando melhor seus trabalhadores. Elas também concedem mais benefícios extra-salariais do que as firmas menos competitivas¿, diz o Ipea.

¿ Está também mais do que provado que inovar em tecnologia não significa poupar emprego. A verdade é que as empresas mais avançadas e mais inovadoras geraram muito mais empregos do que a média no país ¿ afirmou Proença, acrescentando que o maior grau de internacionalização da economia pode ser considerado como uma das causas para as transformações no mercado de trabalho no período recente.

O Ipea observa que é também fundamental tornar o mais abrangente possível as políticas públicas de geração de empregos com carteira assinada. Isto porque, no período de análise, a informalidade não caiu. Medidas macroeconômicas para ampliar a oferta de vagas também são recomendadas, especialmente aquelas que visam a aumentar o investimento. Desse ponto de vista, o controle dos gastos públicos e a redução da carga tributária são essenciais.

Também fazem parte do leque de sugestões a reorganização dos serviços de emprego mais tradicionais, como o seguro-desemprego e a qualificação profissional, e a realização de uma reforma trabalhista que amplie o potencial de geração de postos. Os técnicos recomendam, ainda, maior acesso ao crédito pelas empresas e aprimoramento das instituições que regulam o mercado de trabalho.

Segundo a pesquisa, os maiores salários estão na região Centro-Oeste, embora mais da metade do emprego formal se concentre no Sudeste. A explicação é que está no Centro-Oeste boa parte dos serviços relacionados à administração pública federal, em Brasília, e grandes exportadores. O Sudeste, por sua vez, detém 55% da produção industrial, com salário médio de R$ 1 mil, ante R$ 1,2 mil da administração pública.

¿ De qualquer forma, a importância relativa do Sudeste na produção e no emprego industrial vem diminuindo, devido à migração das indústrias para outras áreas ¿ disse Paulo Tafner, coordenador do livro.

De 84,6 milhões de pessoas empregadas em 2004, 47% atuavam no setor de serviços, que, com o comércio, é o maior gerador de empregos formais em números absolutos. A agricultura é o segundo maior setor em termos de ocupação, com 21%, enquanto a indústria absorve cerca de 19% dos trabalhadores.

O Ipea destaca ainda que os trabalhadores mais jovens estão no comércio e os mais experientes se encontram no setor de serviços, onde a média de idade é de 38 anos. Na agricultura ¿ onde a idade média é de 35 anos ¿ vem ocorrendo um envelhecimento da população ocupada nos últimos anos, em conseqüência da migração.

Em média, um trabalhador permanece empregado em uma mesma empresa por 69 meses ou seis anos. no comércio, o tempo estimado equivale à metade, três anos, enquanto na agricultura o período é de 40 meses. Além de grande gerador de empregos, o setor de serviços tem um tempo de permanência maior, de 65 meses. A administração pública lidera o ranking, com 130 meses, em média.

As vendas da fabricante de cosméticos Vita Derm cresceram nos últimos anos a reboque dos investimentos em inovação. E o quadro de pessoal praticamente dobrou: de 65 funcionários em 2001 para 115 hoje. A empresa destina entre 15% e 20% de seu faturamento à pesquisa.