Título: Risco-Brasil registra piso histórico: 208 pontos
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 10/08/2006, Economia, p. 35

Risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros no país, caiu ontem ao seu menor nível desde que começou a ser calculado, em abril de 1994: 208 pontos centesimais, uma queda de 2,80% em relação à véspera. A manutenção, anteontem, dos juros americanos em 5,25% ao ano pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), aumentou a atratividade dos papéis de países em desenvolvimento, como o Brasil.

O recorde anterior havia sido registrado no dia 3 de maio deste ano, quando o indicador atingiu 212 pontos centesimais. Com o recuo de ontem, a queda no ano já chega a 33,11%. E, em apenas oito meses, o Risco-Brasil já acumula perdas superiores às registradas nos últimos dois anos: entre 2004 e 2005, a queda acumulada foi de 32,82%.

Remuneração alta atraiestrangeiros para o Brasil

Motivos não faltam para justificar tamanha baixa. Diante de taxas ainda baixas não apenas nos EUA, mas também na Europa e no Japão, os investidores voltaram a carga para os mercados emergentes, onde recebem quase 10% ao ano pelos papéis de países como o Equador. No caso do Brasil, a remuneração é de cerca de 7% ao ano. Em média, os emergentes pagam 6,7% ao ano.

Ao comprar os títulos destes países, o risco das nações ¿ que é calculado com base na cotação de uma cesta de papéis ¿ tende a cair. Ontem, por exemplo, com a queda do indicador brasileiro, o país, que estava na quinta posição, passou a Turquia e agora ocupa o sexto lugar numa lista de países com maior risco no mundo. A relação inclui Equador (484 pontos centesimais), Nigéria (337), Argentina (319), Filipinas (232) e Turquia (219).

E as taxas podem continuar caindo, se forem confirmadas as expectativas de mercado de que os juros sejam mantidos em patamares baixos nos Estados Unidos. Para Maury Harris, economista do banco UBS em Nova York, a desaceleração da economia americana será suficiente para sustentar a pausa do Fed até o fim do ano. Na sua avaliação, o afrouxamento monetário começaria apenas em 2007.

Já Pedro Martins, estrategista de Bolsa para a América Latina da corretora Merrill Lynch, destaca que também as ações de empresas brasileiras devem ganhar fôlego com a decisão do Fed. Com juros estáveis, a volatilidade dos mercados emergentes tende a diminuir e o apetite de risco, na contramão, deve aumentar entre investidores globais.

Ações na AL podem subir com decisão do Fed

Martins lembra que as ações latino-americanas ainda estão abaixo do seu pico de valorização em 2006 ¿ atingido em maio. No Brasil, em média, os preços estão 14% mais baixos, bem acima da média de 12% na América Latina e 10% no Chile.

Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos, vê com cautela os movimentos recentes de mercado. Ele avalia que, se os preços do barril de petróleo continuarem pressionados, o Fed pode ser levado a fazer novo aumento de juros, o que afetaria ¿ embora com efeitos limitados ¿ os mercados emergentes.

Ontem, no Brasil, investidores ainda comemoravam a decisão do Fed. A expectativa de entrada de recursos de investidores estrangeiros no país fez a cotação do dólar ceder 0,46%, para R$ 2,168 no encerramento dos negócios. Na mínima do dia, a moeda chegou a valer R$ 2,161.

O volume financeiro disparou: ficou em US$ 2,2 bilhões, bem acima da média de US$ 1,4 bilhão dos últimos dois dias, quando os investidores, cautelosos, aguardavam a reunião do banco central americano. Após subir 1,24%, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acabou fechando em queda de 0,92%.