Título: Rondônia: escuta compromete Cassol
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 11/08/2006, O País, p. 14

PORTO VELHO (RO). O presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia, José Carlos Oliveira, o Carlão, preso pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de comandar uma organização criminosa sediada no Poder Legislativo, usou o Tribunal de Contas do Estado para retaliar investigações promovidas pelo Tribunal de Justiça e pelo Ministério Público contra seu grupo. De acordo com investigações e escutas telefônicas feitas pela PF, Carlão teria conseguido esse poder com apoio do governador Ivo Cassol (PPS) e do candidato ao Senado da chapa pela reeleição, Expedito Júnior. Cassol nega participação.

¿O governador Ivo Cassol, o ex-governador Osvaldo Piana, Expedito Júnior, Carlos Magno (ex-chefe da Casa Civil, que está preso) e Amadeu Machado participam ativamente das articulações para a nomeação de Edílson (também preso) e Crispim para ocuparem o cargo de conselheiro do TCE/RO¿, diz relatório da PF. As escutas mostram as articulações de Carlão para nomear Edílson de Souza Silva, em novembro do ano passado, para a vaga do conselheiro Amadeu Machado. Antes de ser nomeado, Edílson, preso na Operação Dominó semana passada, atuava como advogado do grupo investigado.

Já o auditor do TCE Valdivino Crispim de Souza também teria sido nomeado conselheiro graças à articulação de Carlão, em abril deste ano. ¿Novamente essa articulação é encabeçada pelo presidente da Assembléia e pelo agora conselheiro Edílson. Aparecem novamente apoiando as ações Ivo Cassol, Carlos Magno e Expedito Júnior¿, diz o relatório da PF encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça.

¿ Isso é acordo entre eles. Não tem nada comigo. Quem denunciou tudo fui eu. Não dou procuração para que ninguém fale por mim ¿ afirmou Cassol.

¿Ação do governador foi decisiva¿, diz laudo da PF

¿Após sua nomeação, o conselheiro Edílson mantém diálogo com o deputado Carlão, que esclarece as circunstâncias que antecederam o ato, deixando claro o acordo com o governador e o presidente da Assembléia. A ação do governador foi decisiva para a nomeação de Edílson, pois essa só se tornou viável com a aposentadoria do conselheiro Amadeu Machado, articulada por ele (governador)¿, afirma texto da PF. Procurado pelo GLOBO, Expedito não foi encontrado.

Em gravação da 18 de abril, depois da Assembléia aprovar o nome de Crispim, Edílson, já conselheiro, fala com o governador ao telefone e leva a aprovação para que Cassol assinasse o decreto de nomeação. Numa outra conversa entre Carlão e o recém-nomeado conselheiro Edílson, o segundo narra ao padrinho político como foi a nomeação. Carlão pergunta a Edílson o que o governador prometeu ao conselheiro Amadeu para que ele pedisse aposentadoria. Edílson diz que não presenciou nenhuma promessa, apenas ouviu o governador dizer que se tratava de um acordo entre Carlão e ele. Segundo Edílson diz na conversa grampeada, Carlão teria cumprido sua parte no acordo e, por isso, o governador cumpriu a dele, fazendo a nomeação.

Cassol disse ao GLOBO que a indicação de Edílson era da Assembléia e que ele apenas assinou a nomeação porque não havia, naquele momento, nada que o desabonasse. O governador explicou ainda ter nomeado Valdevino para uma vaga que seria indicação do próprio TCE:

¿ Tinha de escolher entre os três indicados pelo tribunal.