Título: a divisão nos estados
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 12/08/2006, O Globo, p. 2

Há um contraste absoluto entre os índices eleitorais do presidente Lula e o desempenho de seu partido, o PT, na disputa pelos governos estaduais. O Ibope divulgou ontem a situação eleitoral nos três estados que compõem o triângulo político central, também chamado das Bermudas. Em todos o PT tem poucas chances de vitória.

No Rio, Lula fez campanha ontem subindo ao palanque do bispo Crivella, do PRB. Fez comício em Niterói com o petista Vladimir Palmeira, mas ele tem desempenho bem inferior ao do bispo, enquanto o senador Sérgio Cabral, do PMDB, avança para ganhar no primeiro turno. Em Minas, a candidatura de Nilmário Miranda é definida pelos próprios petistas como ¿de sacrifício¿. O governador aécio Neves navega nas alturas, deixando todos na poeira. a função de Nilmário é agregar as forças governistas com vistas à eleição de uma bancada, o que pode estar sendo prejudicado pela aliança com o PMDB de Newton Cardoso, candidato ao Senado. Em São Paulo, as pesquisas continuam apontando a possibilidade de vitória do tucano José Serra já no primeiro turno.

Mas fora do Sudeste também é ruim a situação do PT nas disputas estaduais. Seus únicos candidatos com chances reais de se eleger são Marcelo Déda, em Sergipe, e Binho Marques, no acre. Lula tem alguns aliados liderando as pesquisas, mas de outros partidos, como Eduardo Braga (aM) e José Maranhão (PB). aliados históricos como Roberto Requião (PR) caíram fora.

Em 2002 não foi muito diferente. Juntamente com Lula, o PT elegeu apenas os governadores Jorge Viana (aC), Zeca do PT (MS) e Wellington Dias (PI). No primeiro ano Lula procurou ter uma relação de cooperação com os governadores. Reunia-se freqüentemente com eles e obteve apoio para a primeira agenda das reformas. Quando entrou em pauta a reforma tributária, a boa relação entrou em crise. Com as eleições municipais de 2004 e a crise política de 2005, azedou de vez.

a dispersão dos governos estaduais entre muitos partidos é mais uma consequência nociva do multipartidarismo fragmentado a que chegamos. Ela deve se repetir este ano, mas com uma ligeira concentração dos governos em quatro ou cinco partidos: PT, PMDB, PSDB, PFL e algum outro, talvez o PPS.

Este é outro mal prenúncio para 2007, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, e mais ainda se Lula for reeleito. Tem se minimizado muito a influência dos governadores sobre as bancadas do Congresso, mas ela continua existindo e é forte. a União tem verbas, mas o estado está mais próximo da realidade dos deputados. Um sinal da participação dos governadores na governabilidade está no fato de Lula ter obtido maioria para as reformas na primeira fase de seu governo, quando tinha boa relação com os governadores. a partir de 2004 é que a base governista começou a ser azeitada por mudanças partidárias, por liberação de emendas e pelo fluxo do valerioduto para partidos aliados.

O triângulo das tormentas

agora caiu também o governador de Rondônia, Ivo Cassol, na malha em que a Polícia Federal está pegando a grande quadrilha do estado. O PPS ainda não disse nada. O deputado Paulo Delgado (PT-MG) colheu muitos apoios ¿ e alguns protestos ¿ à sua proposta de regressão dos estados de Rondônia, Roraima e amapá à condição de territórios federais. O argumento: eles custam milhões à União (que ainda banca boa parte das despesas, inclusive da folha de pagamento) e muito caro à democracia. Há sempre políticos desses estados, e sobretudo Rondônia, metidos nos mais escabrosos escândalos.

alega ele ainda que estes estados estão super-representados no Congresso. Cada um tem oito deputados. Juntos, 24, o que representa 4,6% das cadeiras. Mas têm juntos menos de 1% do eleitorado nacional. E ainda têm nove senadores, mais de 10% do Senado.

Olhar distorcido

Está sendo apresentada como evidência do desencanto da população com a política as faixas exibidas por moradores de um bairro pobre de Nova Iguaçu. De fato é isso. Uma delas diz: ¿Candidato, sem obras você não é bem-vindo. Não perca seu tempo e não tome o nosso também. Vá embora¿.

Não fazem distinção entre candidatos a cargos executivos ou legislativos. O que querem estes moradores? O asfalto que não chega, o posto de saúde, a segurança que não existe. Mas estas são questões que não dizem respeito ao Legislativo, e sim ao Executivo, mais precisamente à prefeitura. O equívoco em relação ao papel dos parlamentares cria a pressão para que eles consigam verbas e obras para suas bases eleitorais. Daí a febre por emendas orçamentárias ou pela assinatura de convênios em que figurem como mediadores. Isso não justifica a associação com máfias e quadrilhas, como fizeram os sanguessugas, mas ajuda a explicar a distorção no relacionamento entre os poderes Legislativo e Executivo em todos os níveis. Está faltando a compreensão de que um deputado não é governante nem despachante, mas um representante.

a aCaDEMIa Brasileira de Letras entende-se como templo maior da língua e da cultura, mas não quer ser uma torre de marfim, longe dos ventos do mundo, diz seu presidente Marcos Vilaça. O seminário Brasil, Brasis, com um tema a cada semana, é prova disso. Estivemos lá anteontem, Merval Pereira, Josias de Souza, José Neumâne e eu, discutindo os meios de comunicação e a sociedade da informação em que vivemos. Muito viva está a aBL, como deve ser.

O DIaP divulgou ontem a lista dos dez mais influentes no Congresso: senadores Renan Calheiros (PMDB-aL), arthur Virgílio (PSDB-aM), aloizio Mercadante (PT-SP), José Sarney (PMDB-aC) e aCM (PFL-Ba) e os deputados aldo Rebelo (PCdoB-SP), José Carlos aleluia (PFL-Ba), arlindo Chinaglia (PT-SP), Henrique Fontana (PT-RS) e Rodrigo Maia (PFL-RJ). Foram eleitos pelos ¿cem cabeças do Congresso¿, recentemente apontados. Entre estes, apenas um sanguessuga, Suassuna. Há dicotomia, inclusive ética, entre a elite e o baixo clero. Como superá-la, ninguém sabe.