Título: Nove acusados no caso sanguessugas dizem que desistirão da reeleição
Autor: Alan Gripp, Evandro Éboli e Maria Lima
Fonte: O Globo, 12/08/2006, O País, p. 4

BRASÍLIA. Um dia depois do anúncio feito pela CPI dos Sanguessugas da relação de 72 parlamentares que podem perder o mandato por envolvimento no escândalo das ambulâncias, pelo menos nove deputados acusados pela comissão desistiram de tentar disputar a eleição deste ano, cinco deles evangélicos. Três outros optaram por concorrer a cargos menos importantes.

Pelo menos cinco parlamentares informaram estar indecisos. Devem aguardar a decisão da Câmara sobre a abertura de processo contra eles no Conselho de Ética. caso o rito seja acelerado, vários deles devem renunciar ao mandato para não correr o risco de perder seus direitos políticos por oito anos. Dos 69 deputados envolvidos, O GLOBO ouviu 39. Os outros trinta não deram informações, não foram localizados ou não retornaram as ligações.

Os evangélicos desistentes são Heleno Silva (PL-SE), Jorge Pinheiro (PL-DF), Josué Bengtson (PTB-PA), João Mendes de Jesus (PSB-RJ) e Marcos de Jesus (PFL-PE). Este último teria desistido por ordem da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual é integrante. O deputado Maurício Rabelo (PL-TO) ainda não decidiu se vai retirar a candidatura.

Jorge Pinheiro (PL-DF) informou que desistiu para poder se defender na Justiça. Ele acusa a CPI dos Sanguessugas de não ter levado em consideração sua defesa por escrito.

¿ Fiquei simplesmente chocado. Eu estava tranqüilo, esperando minha absolvição, porque eu não tenho emenda para ambulância. O Amir Lando (relator da CPI) me disse que não teve tempo de olhar todas as defesas, que não são citadas no relatório. Meu nome nunca esteve envolvido com escândalos ¿ disse.

Além dos evangélicos, desistiram os deputados Osmânio Pereira (PTB-MG), Neuton Lima (PTB-SP), Wanderval Santos (PL-SP) e Paulo Feijó (RJ), que pediu desligamento do PSDB após o escândalo.

Osmânio Pereira, no seu quarto mandato de deputado, disse que iria comunicar ontem à Justiça Eleitoral sua desistência. Ele deixou o PSDB e ingressou na base aliada ao governo Lula no início desta legislatura.

¿ Não há clima para disputar novo mandato nesse ambiente de caça às bruxas ¿ disse Osmânio.

Incluída na lista, a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ) informou que pensou em desistir, mas decidiu manter a sua candidatura para se defender publicamente. Acusada de receber R$ 15 mil da quadrilha, disse que entregou à CPI os extratos bancários mostrando que os depósitos não existiram, mas a comissão não considerou.

¿ Tenho que provar que sou inocente. Meu pai sempre dizia que tudo o que a gente compra com dinheiro é barato, mas que a gente não compra honra, história, nome ¿ disse ela.

Cleuber Carneiro (PTB-MG) admitiu que recebeu R$ 14,4 mil, para ajuda em campanhas eleitorais:

¿ Sou um grão de areia nesse Saara de corrupção.

O deputado Pastor Amarildo (PSC-TO) minimizou o seu envolvimento na lista. Disse que não só mantém sua candidatura, como terá uma votação extraordinária:

¿ Quem vai decidir se nos cassa ou não é o povo em outubro . Conheço meu eleitorado. Vou ter é o dobro de votos da última eleição. O povo tomou raiva dessa CPI porque só tinham prova contra 25 e pediram a cassação de 72 ¿ disse.

Citado pela CPI, Pedro Henry (PP-MT), que iria disputar o Senado, vai concorrer a vaga na Câmara. Nilton Capixaba (PTB-RO) postulava o Senado, mas vai tentar se reeleger. Edna Macedo (PTB-SP), também na relação da comissão, trocou a reeleição pela candidatura a deputada estadual.