Título: Vale disputa níquel com US$ 17 bi
Autor: Erica Ribeiro*
Fonte: O Globo, 12/08/2006, Economia, p. 37

RIO e SÃO PAULO

A Vale do Rio Doce informou ontem que fará uma oferta de US$ 17,7 bilhões, ou 86 dólares canadenses por ação, em dinheiro, pela compra da empresa do Canadá Inco Limited, líder no mercado mundial de níquel. A oferta formal será feita nesta segunda-feira, quando a Vale enviará cartas aos acionistas da companhia e também às autoridades canadenses. A partir daí haverá um prazo de até 45 dias para a aprovação da compra, que deve passar também pelo crivo dos órgãos reguladores daquele país. Se fechar o negócio, a Vale passará a ser a maior produtora mundial de níquel, considerando os projetos em andamento no Brasil. A Vale não é a única empresa do setor disposta a comprar a Inco: a canadense Teck Cominco e a americana Phelps Dodge também fizeram ofertas, ao preço por ação em torno de 89 dólares canadenses. A diferença é que as concorrentes oferecem como parte do pagamento ações de suas empresas. A operação foi considerada a maior já feita por uma empresa na área de fusões e aquisições no país. Segundo a PricewaterhouseCoopers, de 1990 até agora, não existe transação maior do que a oferta feita pela Vale. ¿ É uma proposta bastante atraente para os acionistas da Inco. Estamos confiantes de que este é um passo importante para a companhia (referindo-se à Vale). O preço feito pela Inco reflete as qualidades que ela tem, é um preço justo. Agora começa um jogo de paciência. Haverá uma guerra de informações. Mas estamos seguros de que nossa oferta é a melhor. Com a aquisição, a Vale será a segunda maior mineradora do mundo ¿ afirmou Roger Agnelli, presidente da Vale. Bancos estrangeiros ajudarão na compra Para dar suporte financeiro à operação, a Vale contará com uma linha de crédito com prazo de dois anos, chamada linha compromissada, de quatro bancos estrangeiros: ABN Amro, UBS, Credit Suisse e Santander. Cada um fará aportes em valores iguais, de aproximadamente US$ 4,5 bilhões. O BNDES também pode entrar com recursos. De acordo com o diretor de Finanças da Vale, Fábio Barbosa, o objetivo da empresa é, ao longo do tempo, criar um redesenho da estrutura financeira do empréstimo-ponte dos bancos estrangeiros: ¿ Vamos ter dois anos para estudar as melhores alternativas. Já estamos trabalhando em um pacote que dê aos investidores segurança para continuar. Segundo Agnelli, a oferta de compra da Inco foi estudada e, em um prazo de dois anos, a empresa terá condições de honrar o financiamento sem comprometer investimentos futuros da Vale no Brasil e em outros mercados onde atua. ¿ Isso não altera os planos da Vale. Não consideramos nenhum desinvestimento por causa dessa operação ¿ garantiu. Agnelli disse ainda que se a Vale fechar a compra da mineradora canadense, o nome Inco será mantido, por ser forte no mercado. Ele destacou a sinergia entre as empresas, uma vez que a Inco, centenária no mercado de níquel, detém o conhecimento do setor. Para José Olympio Pereira, da área de Investment Banking do Credit Suisse, um dos bancos que participa da operação de empréstimo à Vale para a compra da Inco, a mineradora brasileira tem grandes chances de sucesso, apesar de a Inco ter assinado um acordo que daria preferência de venda à Phelps Dodge. Isso porque a Phelps injetou recursos em outubro passado na Inco para a compra da empresa Falconbridge, o que não se concretizou. Para o analista Bruno Garcia, gestor da ARX Capital, a oferta feita pela Vale não pode ser considerada hostil, já que a empresa vai comunicar oficialmente aos acionistas seu interesse na aquisição. Além disso, já há outras empresas na disputa. ¿ É uma grande oferta, já que o valor que a Vale se dispõe a pagar à vista pela Inco corresponde a cerca de 30% de seu valor de mercado, de US$ 55 bilhões. Se fechar o negócio, a Vale comprará um dos melhores ativos existentes no mundo. Ações da Vale caem e as da Inco sobem Ainda de acordo com o analista, a curto prazo o mercado pode penalizar a Vale pela percepção do risco da operação. Mas, a médio prazo, será um bom negócio. Ontem, após a divulgação da oferta pela Inco, as ações preferenciais da Vale (PN, sem direito a voto) caíram 2,21% e fecharam a R$ 42. As ações ordinárias (com direito a voto) caíram 1,82% e fecharam a R$ 48,40. Já os papéis da Inco fecharam em alta de 3,28% na Bolsa de Toronto, a 89 dólares canadenses.

(*) Com agências internacionais