Título: De uma hora para outra, quem queria comprar pode ser comprado
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 12/08/2006, Economia, p. 38

WASHINGTON. A inesperada entrada em cena da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) deixou atônitos os canadenses, em geral, e os investidores em particular. Nas últimas semanas eles já acompanhavam, perplexos, a grande e confusa guerra de ofertas entre mineradoras que, em alguns momentos, mostrava firmas assediadas transformando-se em empresas conquistadoras.

A Inco Ltd., de Toronto, que está na mira da Vale, estava interessada em adquirir a Falconbridge Ltd., de Québec, mas o negócio não progrediu. Aí a suíça Xstrata, que já era sócia majoritária da Falconbridge, apresentou oferta para ficar com os 80% das ações que ainda não lhe pertenciam.

Por sua vez a Teck Cominco, de Vancouver, avançou sobre a Inco. Surgiu então a americana Phelps Dodge Corp., querendo comprar ao mesmo tempo a Inco e a Falconbridge, que era pretendida pela Xstrata. Logo em seguida, a Phelps Dodge, que também queria a Inco, foi acossada pela mineradora Grupo México SA.

Quando uma dessas transações estava por ser decidida, com as ações de cada empresa envolvida subindo e descendo nas bolsas de valores, surgiu repentinamente a Vale com uma oferta considerada, em princípio, hostil:

¿ Trata-se claramente de uma tentativa de controle acionário não solicitada ¿ disse ao GLOBO um porta-voz da Inco.

Ele nada mais quis acrescentar, e as demais empresas envolvidas nessa batalha tampouco se manifestaram. Segundo Stephen D. Simpson, analista especializado no setor, a Vale demorou a aparecer e, por isso, acabaria pagando mais do que o ideal:

¿ Se a Vale do Rio Doce tivesse feito uma oferta em 2002 o preço seria equivalente a um quarto do atual. Se a proposta fosse feita há um ano, a empresa brasileira poderia adquirir a canadense pela metade do preço ¿ disse ele, acrescentando que não descarta a possibilidade de o valor subir daqui por diante, pois acredita que as demais interessadas vão subir suas ofertas.

A Vale, que deve lançar a proposta oficialmente na segunda-feira, terá prazo de 45 dias para convencer dois terços dos acionistas da Inco a aceitarem a oferta. Até lá, no entanto, a firma brasileira terá de torcer para que as que chegaram primeiro não levem a melhor.

Na próxima quarta-feira vence o prazo para que os acionistas aprovem a oferta da Teck Cominco. Se não houver o apoio necessário, haverá em 7 de setembro uma votação pela proposta da Phelps. depois disso, então, chegaria a vez da Vale.