Título: Mudança no IPCA faz inflação subir menos: 0,19%
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 12/08/2006, Economia, p. 43
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, que pela primeira vez refletiu as variações de preços da nova estrutura de gastos das famílias brasileiras captada na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2002/2003), ficou em 0,19%, conforme informou ontem o IBGE. Em junho, houve deflação (queda de preços), de 0,21%. As mudanças no peso das despesas ajudaram a taxa a subir menos. Apesar de o índice ter vindo acima das expectativas do mercado ¿ em torno de 0,15% ¿ alguns aumentos foram em itens que perderam importância no orçamento das famílias.
Um exemplo foi o álcool. Antes das modificações, esse item de consumo representava 1,2% das despesas familiares. Atualmente, leva apenas 0,4% dos gastos. Como o álcool foi uma das principais pressões para a subida do índice, o peso menor diminuiu o impacto da alta de 1,04% no IPCA, taxa que orienta o sistema de metas de inflação do governo.
no ano, o índice acumula alta de 1,73% e, nos últimos 12 meses, de 3,97%, indicando que não haverá problema para alcançar a meta de 4,5% fixada para este ano.
¿ Quando se introduz uma nova estrutura, o resultado pode ser igual, maior ou menor que na ponderação antiga. Mas não há um viés para baixo ou para cima da inflação. O que aconteceu em julho é que a alta do álcool, que teve o peso bastante diminuído, foi menos relevante do que na estrutura anterior ¿ explicou Eulina Nunes, coordenadora da Sistema de Índice de Preços do IBGE.
Alimentação voltou a subir em julho
Outros aumentos tiveram seus impactos reduzidos em relação à estrutura anterior. O grupo alimentação, que teve deflação de 0,61% em junho, subiu no mês passado 0,09%. Assim como o álcool, a alimentação também custa menos para as famílias (de 21,2% para 20,3%). Portanto, a pressão da alta nesse grupo de despesa foi menor.
¿ Com vestuário, houve o inverso. Com as liquidações, os preços caíram (em média 0,24%). Esse grupo ganhou espaço nas despesas familiares. Então, a queda de preços teve impacto maior. Mas esses variações se anulam ao longo dos meses ¿ disse Eulina.
Para o professor da PUC Luiz Roberto Cunha, essas oscilações já eram esperadas e não mudam a tendência da inflação. As projeções do economista para o fechamento do ano se mantiveram abaixo de 3,5% se não houver reajuste nos preços dos combustíveis:
¿ Se a gasolina subir 10% e o diesel, 15%, a inflação no ano ficaria entre 3,7% e 3,8%, bem abaixo da meta de 4,5% fixada para 2006 ¿ diz Cunha.
Os núcleos da inflação, que retiram do índice as oscilações mais fortes, mais que dobraram em julho. A média anualizada (considerando a taxa para um ano) ficou em 2,5%. Em junho, ficara em 0,84%. O fenômeno é considerado normal pelos economistas:
¿ Eles vinham muito baixo, caindo desde maio. Era natural que voltassem a subir ¿ explicou o professor da PUC.
INPC foi mais baixo, de 0,11%. Taxa anual é de 2,87%
Para este mês, as projeções estão em torno de 0,25%. Mas o sócio da Plenus, Marco Antonio Franklin, está mais otimista. Acredita que a inflação possa repetir a taxa de julho:
¿ As nossas coletas até o dia 9 indicam queda de preços. Pelo menos no IPCA-15 (que mede a variação de preços de 15 de um mês a 15 do mês seguinte), a taxa deve ser de 0,10%. Portanto, há chance de o IPCA de agosto ficar igual ou até menor que o de julho.
O resultado do mês passado do IPCA ¿ que mede a inflação para famílias com renda até 40 salários-mínimos ¿ não deve alterar o ritmo de queda da taxa básica de juros Selic, hoje em 14,75%, segundo Franklin:
¿ Eles devem manter cortes de 0,25 (ponto percentual), até em 2007 ¿ disse Franklin.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor(INPC), que acompanha a cesta de produtos de famílias de um a seis salários-mínimos e é usado como referência para reajustes dos trabalhadores, ficou em 0,11% em julho. no ano, está em 1,18% e, nos últimos 12 meses, 2,87%.
Já o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou alta de 0,16% na primeira prévia de agosto, taxa menor que os 0,18% apurados em julho, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços no Atacado (IPA) subiu 0,17% em agosto, menor que os 0,21% registrados em julho. O único componente do IGP-M que avançou foi o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Depois de ter fechado julho com deflação de 0,08%, o IPC abriu agosto com uma pequena alta de 0,01%.