Título: No último comboio de brasileiros, ônibus lotados e música pop árabe
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 12/08/2006, O Mundo, p. 47

Enviado especial

DAMASCO. A calma e o alívio marcaram ontem aquela que talvez tenha sido a última operação de retirada de brasileiros do Líbano em Beirute. Cerca de 150 pessoas deixaram o país em quatro ônibus disponibilizados pelo Consulado do Brasil na capital libanesa.

Apesar do anúncio de que aquele seria o último comboio, muitas pessoas que estavam com os nomes na lista não aparaceram. Isso não impediu que os quarto ônibus saíssem cheios. A informação de que não haveria mais comboios fez com que dezenas de pessoas aparecessem na porta do consulado ontem de manhã. Todas conseguiram embarcar rumo a Adana, na Turquia, de onde na semana que vem deve partir o último vôo da FAB para o Brasil.

Segundo o chefe do departamento de Comunidades Brasileiras no Exterior, Manoel Pereira Gonçalves, que foi a Beirute acompanhar a operação, apesar do grande número de pessoas retiradas, o Itamaraty deve fazer um balanço das operações nas próximas semanas.

¿ Quando acabar, vamos ter que ver onde podemos melhorar. Foi a primeira vez e tivemos excelentes resultados, mas tudo pode ser melhorado ¿ disse.

Uma das críticas à atuação do Itamaraty foi a demora para conseguir efetuar as primeiras retiradas. Segundo fontes diplomáticas, há a possibilidade de que na próxima semana um último comboio parta do Vale do Bekaa, onde se concentra a maior parte da colônia brasileira.

Crianças foram no colo para ônibus levar mais passageiros

Os quatro ônibus saíram de Beirute ãs 8h55m sem direito a Hino Nacional ou roda de samba. A partida foi animada por uma seleção da moderna música pop árabe. Muitos dos passageiros sequer sabiam falar português. Na maioria, eles usavam algum adereço que pudesse identificá-los como brasileiros. Camisetas, bonés, pulseiras, pingentes e até chinelos tinham as cores da bandeira brasileira.

Na fronteira com a Síria, mais um grupo de brasileiros aguardava para embarcar. Ocuparam os últimos lugares disponíveis e algumas crianças tiveram de ir até Adana no colo.

Nem todos os passageiros deixaram o Líbano por medo. A web-designer Duaba Bazi, nascida em Anápolis (GO), por exemplo, decidiu voltar porque a empresa em que trabalhava fechou devido à guerra.

¿ Não vejo mais nenhuma possibilidade de futuro no Líbano ¿ lamentou.

Já a médica Jane Baakline, de Jaboticabal (SP), considera o Líbadestaque1'>no mais seguro do que o Brasil, apesar da guerra.

¿ Aqui pelo menos a gente sabe mais ou menos onde vão cair as bombas. no Brasil, a gente pode lever uma bala perdida em qualquer lugar¿ comparou ela, que vai ao Brasil com o marido visitar a família.

Já Salete Kaddissi decidiu não arriscar. Ela pegou as três filhas adolescentes ¿ Amanda, Karina e Patricia ¿ e decidiu voltar para São Paulo.

¿ A gente nunca sabe onde essas bombas podem cair. É uma coisa contra a qual não temos proteção alguma ¿ disse.

Patricia deixou o Líbano a contragosto.

¿ Pedi para ficar, mas não teve jeito. Faço faculdade de hotelaria, estava empregada num hotel e agora não sei até quando terei que ficar destaque1'>no Brasil. Tomara que a guerra acabe logo ¿ torce a jovem.