Título: ONU exige fim das hostilidades no Líbano
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 12/08/2006, O Mundo, p. 47

NOVA YORK. Após vários adiamentos, o Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem à noite, por unanimidade, uma resolução exigindo da milícia xiita do Hezbollah ¿a cessação total dos ataques¿ e de Israel ¿o fim imediato da ofensiva militar¿ no Líbano. O texto será examinado hoje pelo governo do Líbano e amanhã por Israel, mas o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, teria concordado com os termos da resolução.

¿ Telefonarei para os dois primeiros-ministros com o objetivo de fixar a data e a hora que o cessar-fogo entrará em vigor ¿ informou o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

A resolução foi aprovada no dia em que o seqüestro de dois soldados israelenses pelo Hezbollah ¿ o que deflagrou o conflito ¿ completou um mês e no dia em que Olmert ordenara a ampliação da ofensiva.

Força de paz será reforçada pelo Líbano

Sob forte pressão internacional, os países-membros do Conselho de Segurança conseguiram uma solução negociada com Israel e Líbano, após semanas de difíceis negociações, período durante o qual mais de mil pessoas foram mortas, 3.600 feridas e um milhão de civis obrigados a abandonar suas casas.

A resolução ¿ proposta por EUA e França ¿ prevê a saída de Israel do Líbano, mas só depois que uma força de paz da ONU, com 15 mil homens, chegar ao sul do país para apoiar as tropas libanesas na tarefa de garantir a paz. O texto pede ainda que Annan coordene propostas para pôr em prática a resolução 1.559 (que prevê o desarmamento do Hezbollah).

¿ Esperamos que a comunidade internacional fiscalize o embargo da entrada de todas as armas no Líbano sem autorização do governo e pedimos que Síria e Irã obedeçam esta determinação ¿ exigiu a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.

Annan apoiou a medida, mas se disse decepcionado pela demora na aprovação de uma resolução, enquanto civis sofriam de ambos os lados.

A resolução estabelece também que o Exército libanês e a força da ONU garantam a criação de uma zona desmilitarizada de 7,5 quilômetros ao longo da fronteira entre Líbano e Israel, território que os combatentes do Hezbollah desocupariam. Annan é instado a trabalhar para que no prazo de uma semana as medidas sejam postas em prática.

O texto da resolução não faz referência à troca de prisioneiros, mas tanto Israel quanto Líbano consideram indispensável a entrega dos soldados capturados pelo Hezbollah e a devolução dos prisioneiros libaneses. Pela primeira vez, é reconhecida a reivindicação do Líbano de ter de volta as Granjas de Shebaa.

Ontem, o dia foi tenso, mas desde a manhã ficou claro que um acordo estava próximo. Após uma semana à espera de um sinal de que a resolução seria votada, Condoleezza chegou cedo à ONU para um encontro com Annan. Os dois saíram dizendo que estavam otimistas.

O novo projeto de resolução foi enviado para ser revisado pelos primeiros-ministros de Israel e Líbano. À tarde, o conselho tentava acertar os últimos pontos em desacordo, entre eles a abrangência da resolução: Israel queria que a comunidade internacional pudesse recorrer às armas para impor a obediência às medidas, mas o Líbano conseguiu que o texto não fosse tão impositivo. Em troca, Beirute concordou que a força de paz tivesse um mandato classificado pelos diplomatas de ¿forte¿.

A Unifil terá como tarefas monitorar o fim das hostilidades, apoiar o Exército do Líbano enquanto Israel se retira do país, garantir o acesso da assistência humanitária às populações civis, ajudar o Exército libanês a garantir a zona desmilitarizada e desarmar o Hezbollah.

¿ Não existe possibilidade de os EUA participarem dessa força ¿ disse Condoleezza.

Bombardeio acerta comboio de refugiados

O reforço da tropa de paz seria garantido pela França e outros países da Europa, mas tanto Reino Unido quanto EUA se limitariam a dar apoio de infra-estrutura. Diplomatas brasileiros disseram que, se solicitado, o Brasil estudará a possibilidade de participar.

Horas antes em Israel, Olmert havia ordenado a ampliação da ofensiva, com intensos combates sendo travados no sul do Líbano, enquanto o centro e o norte do país eram bombardeados.

Olmert decidiu solicitar a seu Gabinete no domingo que aceite a resolução da ONU para pôr fim à guerra.

¿ Após as mudanças, o primeiro-ministro vai recomendar no domingo que o governo aja de acordo com a resolução ¿ disse uma fonte no governo. ¿ A idéia é continuar com a ofensiva até lá.

O premier teria considerado o projeto de resolução ¿satisfatório numa medida razoável¿, e teria dito ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que a aceitava, acrescentou a fonte. Mas a nova decisão, logo após autorizar a ofensiva, pode enviar mensagens contraditórias aos israelenses e trazer prejuízos políticos a Olmert.

Uma alta fonte libanesa disse que seu governo poderia anunciar hoje a aprovação da resolução.

Enquanto isso, a ampliação da ofensiva era posta em marcha, embora o governo tivesse anunciasse que ela poderia ser suspensa se uma resolução fosse aprovada.

Os ataques israelenses mataram ontem 26 pessoas no Líbano. Pelo menos sete morreram e 40 ficaram feridas quando um comboio de centenas de carros que fugiam a cidade de Marjayoun foi atingido por mísseis disparados de um avião não tripulado. Nos ataques mais letais do dia, bombardeios israelenses destruíram uma ponte perto da fronteira com a Síria, matando 12 pessoas e ferindo 18. Duas pessoas foram mortas no Vale do Bekaa e cinco em vários pontos no sul do país, enquanto bombas caíam em Beirute. Seis israelenses ficaram feridos nos ataques do Hezbollah com foguetes contra o norte de Israel.

Um soldado israelense teria morrido nos combates, mas a informação no foi confirmada. Já o Hezbollah anunciou que perdeu quatro combatentes ontem. O conflito já matou 1.041 pessoas no Líbano e 123 em Israel.

O Líbano disse ontem que Israel capturou 350 soldados de seu Exército e agentes de segurança numa base militar em Marjayoun.

Ontem também o novo Conselho de Direitos Humanos da ONU condenou Israel por ¿maciças violações dos direitos humanos¿. O conselho pediu a criação de uma comissão que investigue os ataques contra civis.

Com agências internacionais