Título: UMA LISTA DE ACUSAÇÕES
Autor: Elenice Bottari e Valéria Maniero
Fonte: O Globo, 24/08/2006, O País, p. 3

Sempre envolvido em acusações e polêmicas, Eurico reage: `Não tenho qualquer condenação¿

Eurico Miranda se elegeu deputado federal duas vezes exibindo como plataforma única a defesa do Vasco no Congresso Nacional. O que o futebol lhe deu também lhe tirou graças às sucessivas denúncias e polêmicas em que se envolveu nos últimos anos. Desde a criação da CPI do Futebol, em 2000, a vida política do dirigente começou a ruir, e a impugnação de sua candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral foi apenas o revés mais recente.

Nas últimas eleições, em 2002, Eurico só recebeu 25.028 votos, o que foi insuficiente para garantir o terceiro mandato. Segundo especialistas, a derrota foi reflexo direto da CPI, que o indiciou por crimes de apropriação indébita, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O ex-deputado foi acusado de desfalcar o Vasco em R$ 20 milhões usando contas bancárias de laranjas. O dinheiro teria sido usado para despesas pessoais e para sua campanha de deputado em 1998.

O relatório da CPI também acusou Eurico de ter tentado impedir que policiais federais apreendessem documentos fiscais do Vasco. Em gravação da PF, o dirigente aparece ameaçando assessores parlamentares com frases como ¿Vou te buscar em Brasília¿. Em 2002, o corregedor da Câmara Barbosa Neto (PMDB-GO) chegou a pedir a cassação do mandato de Eurico. Mas a Mesa da Câmara arquivou o processo graças, principalmente, à atuação de Severino Cavalcanti, seu colega de PPB e então primeiro-secretário.

Ontem Eurico anunciou que vai recorrer da decisão da Justiça de impugnar sua candidatura. Segundo ele, isso só aconteceu porque está incomodando seus adversários. O ex-deputado afirmou que não quer se misturar com os políticos acusados de desviar verbas públicas:

¿ Não tenho nenhuma condenação e nunca mexi com dinheiro público. Não queiram me botar no meio daqueles que mexem com dinheiro público. Vou reverter essa decisão.

Durante toda sua vida no futebol, o dirigente colecionou processos, geralmente como réu. Num dos mais famosos, citado ontem pelo TRE, o autor foi o ex-governador Anthony Garotinho. Em 2000, o político foi chamado por Eurico de homossexual, frouxo e incompetente porque mandou suspender um jogo entre Vasco e São Caetano, em São Januário, depois que parte da grade da arquibancada desabou. O ex-deputado ressaltou ontem que o processo aberto por Garotinho foi por resistência e não por desacato.

¿ Eu não fui condenado nesse processo. E não poderia responder por desacato, porque era deputado, protegido pela lei ¿ afirmou.

No mesmo caso, o poder público acionou Eurico por lesão corporal culposa, em nome de 139 dos 168 feridos na tragédia.

Este ano, para voltar à Câmara, Eurico adotou como padrinho político o prefeito de Caxias, Washington Reis (PMDB). Está construindo um centro de treinamento do clube na cidade e cedeu o estádio de São Januário para o Duque de Caxias F.C., da Segunda Divisão do Rio.