Título: FUNDOS MULTIMERCADO CRESCEM, COM MAIOR CAPTAÇÃO NOS BANCOS DE VAREJO
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 28/08/2006, Economia, p. 18

Aplicação, antes restrita a gestores independentes, atrai R$13,7 bi no ano

As bruscas oscilações que têm marcado as operações no mercado financeiro brasileiro ¿ reflexo do temor de desaceleração mais forte da economia americana ¿ não impediram os investidores de buscarem aplicações um pouco mais arriscadas, como os fundos multimercado. A captação, que tradicionalmente ocorria apenas nas gestoras de fundos independentes, agora acontece também em grandes bancos de varejo, como Caixa Econômica, Banco do Brasil e Unibanco, que têm investido no segmento.

A Caixa Econômica, por exemplo, lançou o fundo Estratégico Multimercado Longo Prazo, que aplica em cotas de fundos de instituições como Pactual, BNP Paribas, SulAmérica e Votorantim. O fundo vem captando uma média de R$500 mil por dia e, desde seu lançamento, em abril, acumula patrimônio de R$40 milhões.

¿ Quando se pensa na Caixa, pensa-se em poupança, FGTS e fundos conservadores, já que nosso forte sempre foi a renda fixa. Mas temos também fundos mais sofisticados, como esse multimercado, que surgiu sem muito alarde e, mesmo assim, conseguiu ter uma excelente captação. Só agora começamos a divulgá-lo ¿ explica Wilson Risolia, vice-presidente de Ativos de Terceiros da Caixa.

No segmento de fundos multimercado que aplicam em outros fundos, o produto da Caixa captou R$36,4 milhões de abril até 21 de agosto, 25,8% do total de R$141 milhões.

Oportunidade de aplicar em fundos de primeira linha

Em agosto, o BB lançou cinco novos fundos, mirando no público de mais alta renda. Quatro deles são multimercado, mas com gestão própria.

¿ Havia uma enorme demanda dos clientes por esse tipo de fundo. Mas, diferentemente dos produtos que já tínhamos, agora há um, o BB Multimercado Trade Estilo, que tem um perfil de gestão um pouco mais agressivo, que busca rentabilidades maiores ¿ diz Arnaldo Vollet, diretor da BB DTVM.

A exemplo da Caixa, o Unibanco tem um produto que aplica em fundos de terceiros: o Unibanco Uniclass Multigestor, que aplica em gestores de primeira linha e tradicionais no segmento de multimercados. São nomes como GAP Asset Management, Gávea Investimentos (do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga) e Mauá (do ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo).

¿ A procura pelo produto tem crescido e queremos explorar mais esse nicho. Este fundo multigestor dá ao cliente a oportunidade de aplicar em gestores tradicionais, que, em alguns casos, têm mínimo de aplicação de R$500 mil. No Unibanco, este fundo tem investimento inicial de R$5 mil ¿ compara Aline Sun, superintendente de fundos da Unibanco Asset Management.

¿ Há uma nova tendência entre os multimercado: boa parte da captação vem do varejo, que não tinha, até pouco tempo atrás, tradição no segmento ¿ atesta Marcelo D¿Agosto, sócio do site Fortuna, que monitora a indústria de fundos.

A julgar pelo movimento dos últimos meses, a tendência é que os investidores busquem cada vez mais os multimercado. Apesar dos solavancos registrados pelo mercado brasileiro entre maio e julho, a categoria teve apenas um mês de resgates em 2006 e já capta R$13,7 bilhões no ano.

¿ Com a taxa de juros em queda, os investidores vão atrás de aplicações um pouco mais arriscadas, que possam ter um retorno maior ¿ avalia Octavio Vaz, sócio da Questus Asset.

Fundos podem ter meses de perdas

O administrador de carteiras Roberto Hargreaves investe em multimercados há três anos:

¿ Há um risco um pouco maior, mas, a longo prazo, os bons gestores conseguem entregar resultados que superam largamente os dos fundos conservadores. Nestes três anos, o desempenho foi excelente.

Saulo Sabbá, diretor-executivo da Máxima Asset, diz que o investidor deve ficar atento ao histórico do fundo para avaliar o risco. Fundos muito arriscados podem ter meses de perdas:

¿ Há fundos que arriscam mais que o seu patrimônio. Nestes casos, se houver perdas excessivas, o investidor pode ser chamado para fazer aportes.

Gustavo Coelho, responsável pela área de alocação da Arsenal BPW Investimentos, diz que os fundos que mais renderam este ano são os que fazem apostas de mais longo prazo, com limites de risco maiores:

¿ Estes renderam, em média, 12,58% até o dia 18. O investidor está começando a entender que há diferenças entre esses fundos, sejam de risco ou estratégia. Por isso os resultados variam tanto.

O Mellon Hedge, que mira retornos a longo prazo, rendeu 13,75% no ano e não sofreu com os resgates sofridos pela indústria em junho:

¿ Passamos sem maiores sobressaltos pela crise. O investidor amadureceu. Sabe que nosso objetivo é de longo prazo e, apesar das turbulências momentâneas, com o tempo o investimento tende a compensar ¿ explica Delano Franco, diretor-presidente da Mellon Global Investments-Brasil.

www.oglobo.com.br/economia