Título: CANDIDATOS DRIBLAM ASSUNTOS POLÊMICOS
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Fonte: O Globo, 27/08/2006, O País, p. 14

Presidenciáveis falam ao GLOBO sobre temas que evitam na campanha

BRASÍLIA. Durante a campanha eleitoral, os candidatos endurecem as críticas contra os adversários e fazem árduas defesas de suas metas e promessas. Mas alguns assuntos de interesse direto da população passam longe do discurso de quem está atrás de votos. Se o tema for polêmico entre os eleitores ou bater de frente com instituições como a Igreja, a regra é não provocar debate e usar cautela na hora de abordá-lo.

Para saber o que pensam os presidenciáveis sobre quatro assuntos polêmicos ¿ legalização do aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, liberação do uso de drogas e redução da idade penal ¿ O GLOBO encaminhou perguntas aos candidatos Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL), Cristovam Buarque (PDT) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta a reeleição.

Todos os candidatos se declararam contra a liberação do uso de drogas, mas a maioria se mostrou tímida na defesa da união civil de homossexuais.

Projeto de Marta Suplicy de 1995 ainda não foi votado

Alckmin foi taxativo ao dizer que é contra o aborto, a redução da idade penal e a liberação do uso de entorpecentes. Já na questão sobre o direito à união civil de homossexuais, ele defendeu a proposta, mas sem vestir a camisa:

¿ Não vejo problema no reconhecimento da união civil entre homossexuais. É respeito à vontade das pessoas.

Lula ressalta que condena todo tipo de preconceito, mas não defende abertamente a união civil de homossexuais:

¿ Quero dizer que sou radicalmente contra qualquer forma de discriminação. Sobre a união civil, acho que o assunto merece ser discutido pela sociedade e pelo Congresso Nacional.

O projeto foi apresentado em 1995 pela então deputada Marta Suplicy (PT-SP), mas até hoje não foi votado. Para o governo, a prioridade é a proposta que torna crime a discriminação contra homossexuais.

Cristovam Buarque defendeu a união civil de pessoas do mesmo sexo, mas como um direito não só dos homossexuais:

¿ A união civil independe da opção sexual. Os direitos devem ser assegurados em toda relação entre duas pessoas, sejam do mesmo sexo ou mesmo sem relação marital.

A defesa mais explícita do projeto que assegura os mesmos direitos de casais heterossexuais aos homossexuais veio de Heloísa Helena:

¿ É inaceitável que duas pessoas vivam juntas, consolidem um patrimônio juntas e, na morte de uma delas, a outra fique desamparada, sem direito aos bens que ajudou a construir.

Sobre o aborto, Alckmin, Heloísa e Cristovam se colocaram contra a interrupção voluntária da gravidez. A única posição diferente foi a de Lula, que disse ser pessoalmente contra, mas, como presidente, defende a análise do tema como problema de saúde pública:

¿ Aborto no Brasil é caso de saúde pública. Pessoalmente, como cristão, sou contra. Mas encaminhei a discussão para o Congresso e a sociedade debaterem e discutirem em que circunstâncias ele é admissível.

A proposta que está na Câmara prevê que a mulher pode interromper a gravidez em até 12 semanas de gestação ou 20 semanas, em caso estupro e diagnóstico de má-formação congênita do feto.

¿ Sou contra o aborto. Mas acho que antes de ser crime ou pecado, é uma questão de consciência. A forma mais eficiente de evitá-lo é ampliar os programas de educação sexual ¿ defendeu o candidato Alckmin.

¿ Defendo o planejamento familiar e não o aborto ¿ disse Heloísa Helena.

Os quatro presidenciáveis são contrários à redução da maioridade penal, hoje de 16 anos. Cristovam Buarque defende, no entanto, uma ampliação no tempo máximo de internação ¿ hoje de três anos ¿ para casos em que o menor ofereça risco à sociedade. Já Alckmin defende que o adolescente internado seja transferido para a cadeia comum, em alas especiais, ao completar 18 anos.

Nenhum dos quatro candidatos defendeu a liberação do uso de drogas.

* Da CBN, especial para o GLOBO

http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2006/