Título: INVESTIGAÇÃO DA POLÍCIA DE SP GERA CRISE POLÍTICA
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 24/08/2006, O País, p. 14
Escuta de presos mostraria facção criminosa defendendo o PT, cujos dirigentes protestam
SÃO PAULO. Investigação da Polícia Civil de São Paulo sobre diálogo entre dois presos ligados a uma facção criminosa na qual eles diziam que deveriam ser atacados quaisquer políticos ¿menos do PT¿ abriu polêmica na política estadual e provocou reação imediata dos petistas. O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), classificou a tentativa de ligação do partido com a organização criminosa de ¿uma insanidade completa¿.
O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) está aguardando autorização da Justiça para usar a gravação, na qual os detentos dizem também que os alvos deveriam ser ¿funcionários e diretores do partido PSDB¿. O inquérito, já em andamento segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado, investiga a autoria dos atentados comandados pelos criminosos e não uma possível ligação do PT com a organização criminosa.
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), confirmou ontem que tomou conhecimento das gravações telefônicas em que dois presidiários ligados à facção ordenaram em maio passado ataques a políticos do PSDB e que poupassem os do PT. Lembo afirmou que considerou ¿superficial¿ o conteúdo da escuta e justificou-se dizendo que evitou a divulgação do fato na época para não comprometer o processo eleitoral.
¿ Foi uma opção para prezar pela democracia ¿ disse.
Gravação de conversa não foi feita pela polícia
Segundo nota distribuída ontem pela Secretaria de Segurança Pública, ¿o inquérito em andamento não investiga especificamente o PT, mas de onde partiu a ordem para os atentados e a quem visavam atingir¿. Ainda segundo a secretaria, a escuta que flagrou a conversa dos dois presidiários, Magrelo e Moringa, na noite de 12 de maio, dia em que começaram os primeiros ataques da organização, chegou ao conhecimento do Deic, mas não foi feita pela polícia.
Para Berzoini, a divulgação é uma manobra comandada pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
¿ A coisa mais fácil do mundo é montar um diálogo como esse. Quando um assunto como esse se torna público sem que esteja investigado, que outra conclusão nós podemos tirar se não que se trata de uma manobra daquele irresponsável do secretário de Segurança Pública de São Paulo? Esse cidadão é irresponsável, leviano ¿ disse.
O tucano José Serra, candidato a governador, evitou comentar a suposta motivação política da facção criminosa.
¿ Não tenho nada a comentar, mas parece que eles (PT) também estão fugindo dos comentários ¿ ironizou Serra.
O senador Aloizio Mercadante (SP), candidato do PT, classificou de ¿factóide¿ a intenção de envolver a facção criminosa responsável pelos atos terroristas com o PT:
¿ Se é um episódio de maio, por que só agora? Por que deixar a um mês da eleição? É um factóide ¿ disse.