Título: SEM TR, FINANCIAMENTO HABITACIONAL TERIA CUSTO FINAL QUASE 20% MENOR
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 24/08/2006, Economia, p. 26

Num empréstimo de R$100 mil, economia seria de R$42 mil, diz estudo

A eliminação da Taxa Referencial (TR) dos financiamentos habitacionais, em estudo pelo governo dentro do pacote de medidas para estimular o setor, resultaria numa redução significativa no custo dos contratos. Cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac) mostram que, num empréstimo de R$100 mil feito pelo sistema de amortização Sacre (em que as prestações são decrescentes), num prazo de 15 anos e a juros de 12% ao ano, apenas a extinção da TR geraria uma economia de R$41,9 mil ao mutuário.

Num financiamento de R$100 mil, em que os valores são corrigidos por TR mais juros, o total pago seria de R$230.187,39. Sem a TR, este custo cairia para R$188.279,88, ou seja, R$41.907,62 a menos (uma redução de 18,21%).

Já na Tabela Price - em que o valor inicial das prestações é mais baixo e é corrigido ao longo do tempo - um financiamento similar teria um valor total de R$240.197,40. Excluindo a TR, este custo cairia para R$209.131,20, isto é, 12,93% a menos, o que representa uma economia de R$31.066,20.

Queda do juro teria maior impacto sobre o custo final

O pacote de habitação que está sendo preparado pelo governo inclui, além da eliminação da TR, a permissão do uso do crédito consignado (com desconto na folha de pagamento) para a compra da casa própria e formas de redução do spread bancário (diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o valor cobrado dos clientes). A queda do spread faria os juros dos financiamentos caírem.

- As medidas que o governo estuda são importantes para estimular o setor da construção civil e ampliar os financiamentos habitacionais, especialmente para classes mais baixas. No entanto, é preciso avançar mais, principalmente na queda da taxa de juros e na eliminação de burocracias para a concessão de crédito imobiliário - diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, economista da Anefac e autor do estudo.

De acordo com seus cálculos, cada ponto percentual a menos na taxa de juros significaria uma economia total de aproximadamente R$10 mil num financiamento de R$100 mil pelo sistema Sacre e num prazo de 15 anos. Já pela Tabela Price, cada ponto percentual a menos nos juros cobrados nas linhas de crédito imobiliário geraria uma economia de cerca de R$5 mil no valor total financiado.

- Com a queda dos juros e a competição entre os bancos, quem sairá ganhando é o mutuário, que poderá conseguir financiamento a um custo bem mais baixo que o atual. Mas é preciso ir além. Os prazos de financiamento estão limitados em cerca de 20 anos no Brasil. Para estimular o mercado, seria necessário alongar este prazo para algo próximo do que se tem na Europa, por exemplo, onde os créditos podem ser pagos em 30 anos - acredita Oliveira.

O economista da Anefac também cita a ampliação dos percentuais financiados do valor do imóvel, hoje de 70% a 80%, em média. Para ele, poderia chegar a 100% para estimular o setor. Atualmente, apenas linhas específicas para baixa renda da Caixa Econômica Federal, com recursos do FGTS, permitem o crédito do valor total.