Título: PRISÕES E MEDO NO AR
Autor:
Fonte: O Globo, 24/08/2006, Economia, p. 31

Avião que ia da Holanda para a Índia retorna devido a suspeita e 12 passageiros são detidos

AMSTERDÃ

Em mais um episódio de medo e suspeita dentro de aeronaves comerciais, a polícia holandesa prendeu ontem 12 passageiros de um vôo da companhia americana Northwest Airlines, que saiu de Amsterdã com destino a Bombaim, na Índia, mas que teve que retornar para a Holanda escoltado por dois caças F-16. Os detidos, segundo as autoridades, tinham atitudes suspeitas a bordo.

Passageiros contaram que os suspeitos tentaram usar várias vezes telefones celulares e passavam os aparelhos entre si, o que chamou a atenção da tripulação. As nacionalidades deles não foram reveladas, mas, segundo um tripulante que presenciou as prisões, todos têm aparência sul-asiática. As autoridades informaram apenas que a tripulação, ao suspeitar dos passageiros, comunicou o fato por rádio à torre de controle do aeroporto de Schiphol, de onde partira, pediu autorização para retornar e solicitou a escolta de aviões militares, que teria sido autorizada pelo Ministério da Defesa holandês.

Ao chegar em Amsterdã, o avião ficou alguns minutos parado na pista, até a entrada de policiais. Segundo a porta-voz do aeroporto, Pamela Kuypers, os suspeitos foram presos e levados imediatamente.

- Alguns passageiros foram interrogados ainda dentro da aeronave e muitos outros no portão de desembarque - contou.

O avião, que estava em espaço aéreo alemão quando teve que voltar, levava 149 passageiros.

País não aumentou nível de alerta

A Coordenadoria Nacional Antiterrorismo da Holanda informou que, apesar do incidente, no momento não existe motivo para elevar o nível de alerta no país. "A prisão dos suspeitos não nos dá elementos para aumentar o nível de alerta no país, que desde o dia 10 de agosto é significativo", disse a coordenadoria em um comunicado.

Um representante da Northwest afirmou que os passageiros estavam sendo acomodados em hotéis e que deveriam embarcar para a Índia ainda hoje. Em março, o serviço secreto holandês advertira que a guerra no Iraque e a presença de soldados holandeses no Afeganistão poderia motivar ataques e incentivar o recrutamento de militantes na Holanda.

O assassinato, em 2004, de um cineasta que criticava o islamismo por um holandês de origem marroquina abalou o país e despertou a opinião pública para a ação de militantes em suas fronteiras. Nove muçulmanos foram condenados à prisão este ano na Holanda por pertencerem a grupos terroristas.

A segurança foi reforçada em aeroportos do mundo inteiro depois do dia 10 de agosto, quando a polícia britânica afirmou ter frustrado um suposto plano de terroristas que pretendiam explodir dez aviões comerciais em vôos entre os EUA e o Reino Unido. Ontem, a polícia inglesa conseguiu autorização para prorrogar a prisão de nove dos suspeitos de participação no plano, numa decisão inédita no Reino Unido, que nunca deteve suspeitos de crimes sem acusação por mais de 13 dias.

No mês passado, uma série de atentados contra trens em Bombaim, destino do avião da Northwest, matou mais de 180 pessoas. Ontem, a polícia da cidade indiana afirmou ter frustrado um atentado ao matar um paquistanês suspeito.

A onda de ameaças terroristas e de suspeitas dentro dos aviões fez as autoridades dos EUA e da Europa iniciarem uma campanha para aumentar a capacidade de investigação de passageiros de companhias aéreas. O secretário de Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, propôs um plano de acesso a informações como dados pessoais, itinerários, pagamentos de passagens e reservas de hotéis.