Título: SERRA: 'ECONOMIA OPORTUNISTA' AJUDA LULA
Autor: Flávio Freire e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 25/08/2006, O País, p. 10

'A expansão de gastos correntes tem efeito eleitoral bom', diz tucano

SÃO PAULO. O candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, afirmou ontem que a política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dificultado a tarefa do PSDB de canalizar a indignação nacional contra os escândalos envolvendo o alto escalão do governo petista. Segundo Serra, o presidente utiliza a economia de forma oportunista e, com isso, colhe dividendos eleitorais.

- Não se consegue canalizar a indignação nacional porque é difícil. Um dos problemas é pelo lado da economia. Com relação à cobrança de tudo aquilo que aconteceu, acho que é um tema fascinante como é que, de repente, o país parece ter deixado de lado todos aqueles escândalos, todas aquelas transgressões à ética e tudo mais - disse o tucano, afirmando que nos próximos dias o PSDB vai subir o tom das críticas ao governo federal.

As declarações de Serra foram dadas ontem cedo durante sabatina promovida pelo jornal "O Estado de S.Paulo".

- Uma coisa é indiscutível. A política econômica, chamemos assim, oportunista, tem seu papel nesse caso. Oportunista do ponto de vista fiscal, com a expansão de gastos correntes que tem um efeito eleitoral bom a curto prazo e ruim para o país a médio prazo - declarou o tucano, que destacou outros aspectos econômicos que teriam mantido o preço da cesta básica em baixa e ajudado a impulsionar a popularidade de Lula.

Para Serra, "isso aumenta o desafio, torna as coisas mais difíceis".

- Mas dificuldade não é impossibilidade - acrescentou Serra, dizendo acreditar na ida do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, para o segundo turno.

"Criou-se uma dificuldade adicional, só isso"

Serra negou que seja impossível agir contra essa política econômica classificada por ele de oportunista.

- Apenas digo que cria mais dificuldades, criou-se uma dificuldade adicional, só isso - completou.

Perguntado se não teria sido um equívoco o PSDB não ter apostado no impeachment de Lula no auge da crise do mensalão, Serra disse estar muito envolvido no tema para opinar, mas arriscou uma explicação.

- Os constrangimentos, às vezes, posteriormente não são tão visíveis, são deixados de lado. Entre outros, o da instabilidade que iria provocar na política brasileira o afastamento de mais um presidente - afirmou.

Em seguida, Serra foi mais a fundo na questão.

- Naquele momento, o constrangimento de desestabilizar para tirar do cargo um presidente da República apareceu como algo muito arriscado do ponto de vista da normalidade democrática do país, do ponto de vista da divisão da população, do conflito enfim. Hoje, esse constrangimento tende a ser minimizado, parece menor, mas naquele momento foi decisivo - argumentou o candidato tucano ao governo paulista, que, segundo o Ibope e o Datafolha, hoje venceria a eleição no primeiro turno.