Título: Astros da TV Sanguessuga têm folha corrida e não currículo
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Globo, 25/08/2006, O País, p. 15

Em tempo farto de bordões, a coluna apela para o famoso "perguntar não ofende": é para fazer programas eleitorais como os que estão no ar que os partidos dizem ter que usar até "recursos não contabilizados"? Falta criatividade e ao menos uma pitada de humor, para dizer o mínimo. Mas o pior é que o horário eleitoral não dá mostras de que possa vir a contribuir, de alguma forma, com o movimento para tirar da lista de opções do eleitor gente que tem folha corrida em vez de currículo.

A Justiça Eleitoral cassou as candidaturas dos suspeitos de serem sanguessugas Elaine Costa e Fernando Gonçalves (candidatos à Câmara dos Deputados pelo PTB), mas eles apareceram na TV ontem como se nada tivesse acontecido. Assim como os também candidatos a deputado federal Dr. Heleno (PSC) e Itamar Serpa (PSDB), cujos nomes foram enviados pelo Ministério Público ao STF para serem investigados pelo envolvimento com a máfia das ambulâncias. O PP continuava anunciando a candidatura de Eurico Miranda, barrado em sua corrida para Brasília pelo conjunto da obra. E teve ainda Carlos Nader e Reinaldo Betão (PL), que estão entre os 69 deputados incluídos no relatório da CPI do Sanguessugas.

Ilegal não é, porque os partidos podem manter os candidatos no ar até que não caiba mais recurso, mas é imoral e engorda a lista de maus serviços prestados à democracia.

O PSOL, que se vende como a última reserva de moralidade do Congresso, e o PDT, que usa como slogan o fato de não ter qualquer nome da legenda entre os investigados pela CPI, sequer mencionaram o número recorde de candidaturas impugnadas no Rio e em São Paulo e nem informaram ao eleitor que estão dividindo o horário na telinha com gente que não merece voto.

Enquanto isso, só se fala em Bolsa Família! E não é para criticar! HH usou o tempo na TV para dizer que Lula, Sarney, FH e Alckmin "têm, no fundo, a mesma cara" (sic), mas no rádio o locutor berrava que "A Heloísa não vai, não vai, não vai, não vai acabar com o Bolsa!".

Alckmin só falta beijar os dedos em forma de cruz para jurar ao eleitor que vai manter o Bolsa e até ampliá-lo. E Lula nada de braçada na pasmaceira. No rádio e na TV, ontem, só falou do Bolsa Família, que ganhou uma canção sertaneja como jingle exclusivo. E mostrou no rádio e na TV a lista de apoio internacional que a idéia já recebeu: Bush, Clinton, Chirac, Kofi Annan e Bono Vox.