Título: RENDA CAI E DESEMPREGO SOBE
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 25/08/2006, Economia, p. 27

Pela 1ª vez no ano, salário recua. Taxa de desocupação sobe a 10,7%, a maior em 15 meses

O brasileiro não sentiu, em julho, qualquer avanço no mercado de trabalho. No mês, a taxa de desemprego subiu para 10,7%, pouco acima do que fora visto em junho (10,4%). Trata-se da maior taxa dos últimos 15 meses. Além disso, o rendimento médio real apresentou sua primeira queda do ano: caiu 0,7% em relação ao mês anterior, ficando em R$1.028,50 (3,4% acima de julho de 2005). Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE e integram a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que faz um levantamento nas seis principais regiões metropolitanas do país.

- A desocupação vinha crescendo, até então, sem queda no rendimento. O resultado, que não representa estatisticamente crescimento do desemprego, pode sinalizar baixo dinamismo econômico - disse Cimar Azeredo, coordenador da PME.

Ainda que a economia não esteja com o vigor desejado, outros fatores explicam o avanço da desocupação. Um deles recai sobre o fato de que mais gente procurou emprego em julho, sem que as empresas absorvessem a maior oferta de mão-de-obra. E essa procura pode ser, por exemplo, reflexo das eleições, lembrou Azeredo. Para se ter uma idéia, a PME registrou 2,4 milhões de desocupados -17,9% a mais do que julho de 2005, representando mais 368 mil pessoas em busca de emprego em seis regiões.

- O período eleitoral pode estimular a procura por trabalho. O que, associado à fraca absorção do mercado, contribui para a atual taxa.

O economista Eduardo Velho, da Mandarim Gestão de Ativos, acredita que os efeitos da redução da taxa de juros não chegaram ao mercado de trabalho. Para ele, o câmbio também tem afetado a atividade de alguns setores, inibindo as contratações.

- Na indústria, alguns setores como vestuário, calçados e eletroeletrônicos se ressentem com o câmbio. E, em vez de contratar, demitem. Nos próximos meses, até por questão sazonal, deve haver reação.

Há desaceleração na criação de vagas

Segundo Marcelo de Ávila, economista do Ipea, a queda de 0,7% no rendimento real se explica no próprio ganho de renda consecutivo durante cinco meses. Em sua opinião, essa alta teria de parar em algum momento. Para ele, há outras preocupações:

- Nessa época, a taxa de desemprego perde a velocidade ou mesmo cai. Há uma desaceleração na criação de vagas. No ano, houve redução de 9 mil vagas. No mesmo período de 2005, foram criadas 51 mil empregos. Além disso, o número de pessoas que passaram a incorporar a População Economicamente Ativa (que inclui ocupados e os desocupados) é maior do que no ano anterior.

No mês passado, além de amargar um desemprego maior, o trabalhador sentiu a renda encolher. Na avaliação do Instituto dos Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), fatores que vinham sustentando, em grande parte, a expansão dos rendimentos - como queda da inflação e aumento real do salário mínimo - talvez agora estejam perdendo fôlego. Ainda assim, o Iedi diz que o mercado de trabalho tem apresentado melhora qualitativa, devido a avanços dos empregos com carteira no setor privado (5,1% frente a julho de 2005).

- Por 18 meses consecutivos, o emprego com carteira cresce mais do que aqueles sem carteira. Mas, na ponta, o emprego informal cresce - disse Ávila.

Azeredo, do IBGE, pondera ainda que a qualidade do emprego ficou menos favorável do que em junho. Afirma isso porque, no mês passado, foram criadas 70 mil vagas com carteira assinada, contra 68 mil sem carteira.

Há um ano, dado da mesma pesquisa agradou

Estatísticas desfavoráveis geram críticas dos governos a divulgações do IBGE

Se ontem contestou a pesquisa do IBGE, há um ano, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, comemorava a redução do desemprego - calculado pelo instituto com a mesma metodologia usada atualmente:

- Temos de comemorar porque é um sonho antigo ter a taxa de desemprego em um digito. E estamos certos de que esse número cairá ainda mais até o fim do governo Lula - afirmou Marinho na ocasião, referindo-se à taxa de 9,4% de junho de 2005.

No dia 4 de dezembro de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso também criticou o IBGE, ao fazer um balanço de programas sociais em seu governo. O instituto divulgara, no dia anterior, pesquisa mostrando que 54 milhões de brasileiros viviam com até meio salário mínimo. Por duas vezes, em seu discurso, o ex-presidente reclamou que o IBGE tornou públicos dados que o governo desconhecia. Em outras ocasiões, porém, FH teve a oportunidade de comemorar as divulgações, como em agosto de 2000:

- Ainda hoje saiu um dado do IBGE: caiu, de novo, a taxa de desemprego e aumentou o emprego. Talvez o emprego no Brasil, da população economicamente ocupada, esteja atingindo o mais alto nível da história.

Bandeira política freqüente, os números do desemprego causaram controvérsia no início do mandato de Lula, por causa de mudanças na metodologia do IBGE. Adaptações feitas na PME em dezembro de 2002 fizeram com que a taxa de desemprego saísse de um nível de 7% para 10% em janeiro de 2003 e geraram críticas do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele afirmou que ficaria na História a imagem de que, no governo Lula, o desemprego subiu de patamar.

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