Título: GÁS: BRASIL E BOLÍVIA VOLTAM A DISCUTIR NACIONALIZAÇÃO
Autor: Eliane Oliveira/Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 25/08/2006, Economia, p. 31

Ministro boliviano acusa Petrobras de atuar para fazer reestatização de reservas fracassar

BRASÍLIA e BUENOS AIRES. Brasil e Bolívia decidiram ontem retomar em setembro as negociações para o cumprimento do decreto de nacionalização de hidrocarbonetos, editado pelo presidente boliviano, Evo Morales, em 1º de maio último. A volta do diálogo - interrompido há quase dois meses - foi decidida ontem em reuniões, em Brasília, entre o vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Linera, e autoridades brasileiras. A idéia é concluir com maior rapidez as discussões sobre o preço do gás natural, a exploração das reservas de gás e petróleo e a transferência do controle acionário das duas refinarias compradas pela Petrobras em 1999 à YPFB, petrolífera boliviana.

Linera se mostrou preocupação com um possível atraso na adequação da Petrobras ao decreto (as petrolíferas têm até novembro deste ano para isso). E, segundo uma fonte do governo brasileiro, demonstrou aflição quanto à possibilidade de a Petrobras cumprir a promessa de não investir mais no país.

Ontem, um dia depois de o Senado boliviano ter aprovado uma moção de censura contra o ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Solíz Rada, o Tribunal Constitucional (TC) do país confirmou que em 4 de agosto três congressistas da oposição entraram com um recurso contra o decreto de nacionalização. Na visão dos congressistas, o decreto deve ser declarado inconstitucional. Em meio à contra-ofensiva, o presidente Morales ratificou Solíz Rada no cargo e chamou seus opositores de "assassinos e massacradores".

Solíz Rada foi censurado por supostamente atuar com negligência em pelo menos três casos de suspeita de corrupção na YPFB. O ministro, por sua vez, acusou ontem a oposição e as principais petrolíferas, como a Petrobras, de terem promovido sua censura para frear o processo de nacionalização. Ele disse que a Petrobras está "arrecadando fundos para fazer a nacionalização fracassar".

(*) Correspondente

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