Título: PETISTA PLANEJA TENTAR ATRAIR SETORES DO PSDB
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 27/08/2006, O País, p. 3

Presidente já articula um governo de coalizão para o caso de ser reeleito

BRASÍLIA. Para garantir a governabilidade num eventual segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admite de forma reservada abrir mão do projeto de poder na sucessão de 2010. Distante do PT, com a base esfacelada e sem um grande nome para sucessor, Lula, se vencer, estaria disposto a apoiar uma candidatura de um aliado, em 2010, e consolidar apoios. Um dos receios é com a possibilidade de enfrentar na base parlamentar problemas semelhantes aos patrocinados pela turma do mensalão.

Por isso, num governo de coalizão, Lula ampliaria aliança para além dos governistas do PMDB, conquistando os peemedebistas que hoje estão com o PSDB e, se possível, setores do PSDB. Lula não fala abertamente sobre o tema, mas sinalizou de forma clara em seu discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, quinta-feira, que tentará fazer um governo de convergência.

Para petistas, Lula avalia que não será possível governar apenas com a parcela do PMDB liderada pelos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). Projeções palacianas indicam que isso garantiria apenas 30% do partido. O presidente tem consciência de que o PT não tem nome forte para 2010, já que José Dirceu e Antonio Palocci perderam essa condição.

¿ Como o presidente Lula não disputará em 2010, o ambiente político tende a distensionar a partir do próximo ano. Não há compromisso de Lula com nenhum candidato. O presidente vai ter uma capacidade de arbitragem e haverá um reposicionamento das forças políticas com um novo enfoque. Hoje, temos um governo de composição com o apoio de forças partidárias e regionais. Mas buscando para o segundo mandato um governo de coalizão ¿ analisa o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.

No núcleo de petistas mais próximos de Lula, cresce a idéia de tentativa de acordo com setores do PSDB. A estratégia seria atrair tucanos com quem o Planalto já mantém bom diálogo como os atuais governadores Aécio Neves (MG), Cássio Cunha Lima (PB) e Lúcio Alcântara (CE). No núcleo do governo, especula-se abertamente a possibilidade, inclusive, de Aécio filiar-se ao PMDB e, com isso, tornar-se um pólo de unidade do partido. O governador Jorge Viana (PT), do Acre, está nesse grupo.

¿ Tenho um relacionamento muito próximo com o Aécio, Lula também. A gente vai zerar o jogo. Eles ficaram oito anos e nós também ficaremos oito anos no governo. Como Lula não tem de buscar a reeleição, ficará mais fácil essa composição com PMDB e PSDB. A novidade é trazer o PSDB, que trocará de comando com a derrota do grupo de Alckmin ¿ diz Viana.

¿ Não interessa a Lula começar o governo com o país em crise. O PMDB e o PSDB também não vão querer pegar um país enfraquecido. É preciso trazer esses grandes partidos para a governabilidade ¿ afirma o vice-líder do governo na Câmara, Sigmaringa Seixas (PT-DF).