Título: CONSELHOS POLÍTICOS DE LULA E DE ALCKMIN TÊM ALIADOS POLÊMICOS
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Fonte: O Globo, 27/08/2006, O País, p. 4
Acordos eleitorais levam petista, por exemplo, a ouvir até Jader Barbalho
BRASÍLIA. Por força de acordos eleitorais, os dois principais candidatos à Presidência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), têm em seus conselhos políticos de campanha aliados com passado polêmico do ponto de vista político e ético.
Lula, que passou mais de um ano acossado pela CPI dos Correios e pelo escândalo do mensalão, tem entre seus conselheiros o deputado Jader Barbalho (PA), ex-presidente do Senado e do PMDB. Em 2001, ele renunciou à presidência do Senado e ao mandato para não ser cassado por quebra de decoro parlamentar. Com fama de experiente estrategista político (voltou em 2002 como deputado mais votado no seu estado), Jader responde a ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no escândalo do Banco do Estado do Pará (Banpará) e da Sudam.
Jader é acusado de ter cometido crime de peculato (apropriação de bem público) ao receber, em sua conta pessoal, dez cheques administrativos desviados do banco em 1984, quando era governador. Segundo relatório do Banco Central, de 1992, Jader, parentes e amigos desviaram US$913 mil. Hoje, discute até ética no conselho de Lula.
Alckmin tem em seu conselho político de campanha o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que renunciou ao mandato em 2001 para evitar a cassação por quebra de decoro parlamentar. O pefelista foi um dos responsáveis pela violação do sigilo do painel eletrônico do Senado, na votação da cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF). Em 2002, Antonio Carlos foi reeleito senador. É aliado de primeira hora do tucano.
Recentemente integrado ao conselho político de Alckmin, o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) desistiu de disputar a reeleição alegando desencanto com a falta de ética na política. Em 2000, Moreira foi condenado pelo juiz da 1ª Vara de Fazenda Pública no Rio, Carlos Eduardo da Rosa da Fonseca Passos, a devolver aos cofres públicos R$525 mil. Os recursos foram gastos em campanha publicitária, na qual Moreira anunciava que, como governador do Rio, realizara mais em dois anos do que o seu antecessor, Leonel Brizola, em quatro. Trata-se de irregularidade semelhante a que levou o TSE a condenar este mês o presidente Lula a pagar multa de R$900 mil.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos principais articuladores da campanha que levou Fernando Collor à Presidência, em 1989, também é figura polêmica na campanha de Lula. Como ministro da Justiça do governo Fernando Henrique, deixou o cargo após disputa com o então governador Mario Covas sobre as licitações da inspeção veicular. A licitação para fazer o serviço era feita pelos estados e Renan queria que ela passasse a ser nacional. Covas o acusou de tentar se beneficiar com a mudança.
Também integra o conselho de Lula o ex-presidente José Sarney, que no passado foi chamado pelo petista de ¿grileiro e um dos maiores latifundiários do Maranhão¿.
Um dos mais atuantes no conselho político da campanha de Lula é Roberto Amaral, do PSB, ex-ministro da Ciência e Tecnologia. Contra ele não há acusações de irregularidades. No entanto, Amaral foi protagonista de uma polêmica ao dizer que o Brasil deveria desenvolver o uso da energia nuclear não só para fins pacíficos. Isso lhe custou a saída do cargo logo depois.
O coordenador da campanha de Alckmin no PFL, senador Heráclito Fortes (PI), de acordo com documentos que constam de uma ação judicial, usou jatinhos da empresa Brasil Telecom (BrT). À época, a empresa era controlada pelo Banco Opportunity, de Daniel Dantas. Os aviões da empresa viajaram 58 vezes ao Piauí, entre 1998 e 2005.
http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2006/