Título: O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO DOS CANDIDATOS DO RIO
Autor: Rodrigo March
Fonte: O Globo, 27/08/2006, O País, p. 19

Programas de governo e discursos de campanha prevêem de torre blindada a policiamento camuflado nas principais vias expressas

Imagine um estado com postos de saúde funcionando 24 horas e escolas de horário integral. Os ônibus teriam câmeras e todas as modalidades de transporte, acesso para deficientes. Haveria linhas de metrô ligando a Barra à Penha e Niterói a Itaboraí. A polícia seria bem remunerada e dotada de equipamentos de ponta. Vias expressas, como a Linha Vermelha, seriam monitoradas por torres blindadas. Fábula futurista? Pois este é o cenário desenhado para o Estado do Rio para os próximos quatro anos pelos principais candidatos a governador.

As promessas estão em seus programas de governo ou em discursos em eventos de campanha. Muitas já foram apresentadas por outros candidatos e nunca cumpridas. Na maioria dos casos, conseguir executá-las implicaria 100% de eficiência e uma reviravolta na gestão pública.

Crivella repete Moreira Franco

O programa do candidato do PMDB, Sérgio Cabral, é ousado na área da segurança. No estado prometido por ele, grandes vias, como a Linha Vermelha, terão torres blindadas de policiamento, com ¿amplo grau de visão do entorno¿, iluminação especial, câmeras, reboque, ambulância e viaturas policiais.

Aliás, neste estado, a cada ano um terço da frota da polícia será renovada. Isso significa, de acordo com os números do seu programa, cerca de 1.300 novos carros para as polícias Civil e Militar. Este ano, por exemplo, a Polícia Civil ainda não ganhou um carro novo. A última aquisição feita pelo governo estadual foi em 2004. Em 2005, a renovação foi com recursos federais.

No estado de Cabral, o roubo e o furto de veículos em algumas vias expressas da Região Metropolitana também serão combatidos com a instalação de portais eletrônicos, de modo que todos os carros que ultrapassarem essas barreiras serão fotografados e terão suas placas checadas.

O candidato do PRB, Marcelo Crivella, também projeta um Rio futurista. E vai mais além, repetindo Moreira Franco, que prometeu antes de ser eleito governador acabar com a violência em seis meses. A diferença é que agora as metas são para quatro anos. A principal é reduzir a taxa de homicídios no estado em 70%. Considerando-se as últimas estatísticas, isso implicaria reduzir de 15 para apenas cinco o número diário de homicídios no Estado.

Para desafogar o sistema carcerário, o candidato promete construir novas unidades prisionais, criando nada menos que 2.500 vagas por ano. Só com uma nova unidade em Campos o governo estadual gastou R$17 milhões para abrigar 768 presos.

Crivella também promete implantar a ¿hidrovia dos jesuítas¿, que consiste em tornar navegável para embarcações de grande porte o Rio Guandu, desde a sua foz, na Baía de Sepetiba a BR-116.

A candidata do PPS, Denise Frossard, promete acessos para deficientes em todas as modalidades de transporte público. Para inibir as ações criminosas nas principais vias expressas do Rio, como a Linha Vermelha, ela sugeriu, após encontro com empresários de Niterói, até polícia camuflada.

¿ Falta policiamento preventivo. Na prática, isso significa ter policiamento ostensivo nessas vias, treinado e equipado. E mais: talvez teria que ser até camuflado, para pegar melhor.

Como Crivella, o tucano Eduardo Paes fixa metas e promete, até o final de 2010, ampliar a coleta de esgoto e o abastecimento de água em 20%. Niterói levou sete anos para aumentar a primeira taxa em 28%. Paes também promete ¿fazer¿ a linha de metrô Barra da Tijuca/Penha e obter recursos para Linha 3 (Rio/São Gonçalo), obra que voltou a ser promessa na última década, orçada em R$2 bilhões. As obras da estação Cantagalo, por exemplo, se arrastam por mais de dois anos e já custaram R$267 milhões.