Título: BC CRIARÁ NORMA PARA SETOR DE CRÉDITO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 27/08/2006, Economia, p. 38
Regulamentação procura garantir crescimento sustentado das instituições
BRASÍLIA. As cooperativas de crédito vão ganhar novas diretrizes do Banco Central (BC). A autoridade monetária está preparando estudo inédito a fim de garantir o crescimento sustentado das instituições e conhecer melhor como funciona esse setor, que responde por aproximadamente 3% do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em crédito, movimentando quase R$12 bilhões.
Entre outros fatores, o BC quer criar um marco regulatório para levar métodos de governança corporativa (conjunto de práticas de gestão e transparência) para dentro das cooperativas, hoje ainda com estruturas parecidas com as das empresas familiares.
¿ Nossa base de dados não capta como a governança das cooperativas se dá. Temos informações sobre riscos e indicadores financeiros apenas ¿ resumiu o chefe do departamento de Organização Financeira do BC, Luiz Edson Feltrim.
O projeto está na sua primeira fase, iniciada este mês, na qual serão formados três grupos de estudos para avaliar as boas práticas (tanto corporativas quanto em cooperativas de crédito) no Brasil e nos países onde o segmento é forte, como, por exemplo, Alemanha e Itália.
Número de cooperados dobrou para 2,8 milhões
Em seguida, será realizada uma pesquisa nacional com as cerca de 1.400 cooperativas para diagnosticar práticas de governança. A segunda e última fase do projeto tratará da disseminação dessas diretrizes e dos resultados da pesquisa junto ao segmento das cooperativas de crédito.
¿ Em dois anos, a idéia é que esteja tudo concluído ¿ resumiu Feltrim.
As cooperativas hoje são importante instrumento de concessão de crédito, sobretudo para os consumidores de menor renda e ligados ao setor agrícola. De 2001 para cá, o número de cooperativas cresceu pouco menos de 9%. Mas a quantidade de cooperados dobrou para 2,8 milhões de pessoas.
Esse movimento reflete, na avaliação do BC, o processo de racionalização iniciado há pouco tempo. A autoridade criou as cooperativas de livre admissão, por exemplo, onde diversos segmentos da sociedade podem fazer parte de um mesmo grupo. Hoje são 141, com quatro mil associados em 911 municípios de 13 estados. Um dos problemas mais sérios é a concorrência com os bancos maiores que, neste momento de taxas de juros menores, têm condições de oferecer melhores condições de financiamento às pessoas.
¿ As cooperativas têm de ganhar escala, se unir de qualquer forma. Ou pelo amor, ou pela dor ¿ disse Feltrim.
Presidente de associação diz que é preciso treinamento
As cooperativas aprovam a iniciativa do banco. O presidente da Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Siccob), Heli de Oliveira Penido, reconhece que falta profissionalismo para o setor e avalia que os dirigentes têm de receber mais treinamento. Além disso, os agentes do setor também reconhecem como falha a falta de interesse dos associados, que deveriam atuar mais de perto.
¿ Ainda há pouca representatividade social nas cooperativas. O BC pode ajudar criando mais diálogo ¿ avaliou o vice-presidente do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), Ênio Meinen.