Título: ACUSADO PELA CPI ADMITE PROPINA
Autor: Chico de Gois e Alan Gripp
Fonte: O Globo, 29/08/2006, O País, p. 3
Deputado do Pará desiste da reeleição e devolve dinheiro à Planam
BRASÍLIA. Na carta de renúncia à candidatura à reeleição, enviada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará semana passada, o deputado Josué Bengtson (PTB-PA) confessa que recebeu dinheiro da família Vedoin, acusada de operar esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. Bengtson reconhece que errou e informa ter devolvido à Planam o dinheiro recebido. O depósito de R$19.992 foi feito no dia 17 de agosto.
Bengtson é o primeiro acusado pela CPI dos Sanguessugas a confessar ter sido beneficiado pelo esquema. Ele próprio depositou o dinheiro, em Belém, na conta da Planam. O recibo do depósito, reconhecido em cartório, está anexado ao documento que Bengtson enviou ao TRE. Ele alega que só aceitou o dinheiro porque os Vedoin eram apresentados como ¿pessoas de bem¿ no Congresso.
Na carta, Bengtson conta como começou sua relação com os Vedoin, que ¿circulavam pelo Congresso anos e anos sendo apresentados como empresários probos, sérios e de caráter¿. Bengtson diz que a família Vedoin o ajudou ¿com irrisórios valores¿ para campanhas eleitorais. ¿Eram, à época, pessoas tidas como de bem. E tornaram-se más, corruptas, arrastaram consigo todos os que aceitaram doação. Dentre eles, eu. Devolvi à família Vedoin, os tais doadores, os R$19.992,00 que recebi. Acho justo que assim eu proceda ao saber que aquela família conquistou essa importância de forma ilícita¿, diz o texto.
Sem novo mandato, caso de Bengtson será arquivado
O deputado paraense, pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular, admite que errou. ¿Desisto de minha candidatura, pois reconheço que errei (...) por acreditar na boa-fé de quem não merecia¿.
Apesar de ter desistido de disputar a reeleição, Bengtson vai responder a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética. Ele não renunciou ao atual mandato e, ao admitir que recebeu dinheiro indevido, sua situação no colegiado se complica. Mas dificilmente sua cassação será julgada no plenário, o que só iria ocorrer no ano que vem. E, sem novo mandato, o caso será arquivado.
Bengtson negou ter feito acordo espúrio com os donos da Planam e diz que jamais usou seu mandato em benefício próprio.
O teor da carta que enviou ao TRE do Pará diverge da defesa que Bengtson apresentou à CPI dos Sanguessugas, no último dia 2 de julho. Na defesa, o advogado Itapuã Messias, contratado pelo deputado, afirma que ¿Josué Bengtson é inocente¿.
Bengtson afirma na defesa que não há qualquer relação dos depósitos feitos pelos Vedoin com a liberação de emendas da saúde. Ele reconhece que recebeu dois depósitos na sua conta-corrente, um de R$5 mil, em maio de 2003, e outro, de R$14.992, em maio de 2004, que totalizam os R$19.992 devolvidos na semana passada.
¿O primeiro depósito foi uma oferta de Vedoin para pagamento de conta remanescente de campanha. E o segundo, um ano depois, foi para ajudar o deputado nas despesa com a pré-campanha de prefeitos de 2004. Mas, fosse para o que fosse, não há qualquer relação entre esses depósitos e as emendas¿, afirma a defesa do deputado na CPI.
Bengtson disse, em julho, que as emendas do deputado foram pagas pelo Ministério da Saúde em datas bem diferentes das dos depósitos.