Título: GOVERNO SUSPENDE CRÉDITO DO BNDES PARA A VOLKS
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 29/08/2006, Economia, p. 25

Financiamento de R$479 milhões vai depender de um acordo entre a montadora e os seus trabalhadores

BRASÍLIA e RIO. Em reunião ontem com diretores da Volkswagen, o governo condicionou o empréstimo de R$479 milhões do BNDES, pedido pela montadora, à conclusão das negociações com os trabalhadores. Segundo o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o banco vai aguardar que o acordo entre a direção da empresa e os sindicatos sobre a reestruturação da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, chegue ao fim. Antes de um entendimento, o processo de negociações por novos recursos está suspenso.

¿ O governo não está interferindo diretamente nas negociações, mas esperamos um acordo que seja bom para as duas partes e, principalmente, para o Brasil. A Volks já nos informou que não pretende fechar as três unidades de automóveis, entre elas a de São Bernardo ¿ disse Marinho.

Governo dividido no apoio financeiro à montadora

Desde 2000, o BNDES já liberou para a montadora alemã cerca de R$2,5 bilhões em financiamentos para investimentos nas linhas de caminhão, ônibus e automóveis. O último desembolso, de R$185 milhões, foi feito há dois meses.

Além de Marinho, participaram da reunião a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente do BNDES, Demian Fiocca. Falou em nome da Volks o vice-presidente de Recursos Humanos, Josef Fidelis Senn.

Fiocca explicou que o dinheiro ainda não foi liberado por questões técnicas. Segundo ele, a montadora precisa informar sobre seu plano de investimentos, já que o anúncio de que a fábrica no ABC poderia fechar e, com isso, demitir cerca de seis mil trabalhadores, foi feito após o pedido de empréstimo.

¿ O acordo vai ser avaliado à luz da possibilidade de haver, ou não, fatos novos ¿ afirmou Fiocca. ¿ Temos que ver se o investimento original está mantido. Por isso, vamos aguardar as negociações.

A crise da Volks revelou uma briga interna no governo. Enquanto Fiocca e o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, estão propensos a liberar o empréstimo, Luiz Marinho defende a vinculação do financiamento à manutenção dos empregos. Ainda não há vencedor, mas fontes oficiais que estão acompanhando o assunto comentaram que o ministro do Trabalho conseguiu um ponto a seu favor ontem.

¿ Enquanto não for consolidado o acordo, o BNDES vai suspender e aguardar ¿ repetia Marinho.

O dinheiro do BNDES seria usado, diz a montadora, para modernizar fábricas e desenvolver novos modelos. Agora, a Volks afirma que pretende fazer ajustes na fábrica de São Bernardo e demitir 3.600 funcionários. Caso contrário, terá de fechar a indústria, demitindo mais de seis mil trabalhadores.

A Volkswagen anunciou a reestruturação em maio, alegando perdas com exportações devido ao câmbio valorizado. Mas Marinho deixou claro que não é intenção do governo dar benefícios isolados. Ele lembrou que já foram tomadas medidas para estimular as vendas externas, inclusive das montadoras.

Apesar da queda nas exportações, o setor não vive crise. A produção de veículos cresceu 4,4% de janeiro a junho; já a indústria em geral avançou só 2,6%. Para Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset, o segmento sofre com o real mais forte, mas o mercado interno vem absorvendo a produção, a ponto de o setor esperar bater no ano que vem o recorde de 1997, quando a produção alcançou 1,9 milhão de unidades:

¿ Nos últimos três anos, as vendas internas têm subido cerca de 10%. Já as exportações caíram 4% este ano.

Mas a Volks se mantém entre os líderes. Após ter perdido o segundo lugar no ranking em 2005, voltou à posição anterior e já ameaça a líder Fiat.

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