Título: Paes e Frossard trocam farpas e mentem na TV
Autor: Rodrigo Leonardo March/Cássio Bruno/Valéria Manier
Fonte: O Globo, 30/08/2006, O País, p. 16

Tucano diz ser advogado, mas não tem registro na OAB. Candidata do PPS é contra nepotismo mas nomeou sobrinho

De um lado, a mais nova apadrinhada do prefeito Cesar Maia (PFL): a candidata do PPS ao governo do Rio, Denise Frossard. Do outro, o ex-aliado do prefeito e também candidato ao governo, Eduardo Paes (PSDB). Os dois, que apóiam o tucano Geraldo Alckmin à Presidência, deram informações falsas durante o debate da Rede Bandeirantes, que terminou ontem de madrugada.

Paes admitiu ontem que nunca teve o registro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Durante o debate, ele declarou ser advogado, quando, na verdade, é apenas bacharel em direito. Já Frossard, que disse ser contra o nepotismo, confessou ter mantido por dois anos um sobrinho nomeado em seu gabinete na Câmara.

Sobrinho de Frossard trabalhou até 2005

Marcelo Frossard trabalhou de fevereiro de 2003 a abril de 2005, com salário de R$6 mil. A informação, obtida por Paes na CPI dos Correios, da qual foi sub-relator, foi revelada por ele após o debate.

- Quando assumi meu mandato como deputada, não havia ninguém em quem confiasse plenamente para organizar meu escritório no Rio e meu gabinete em Brasília - afirmou, em nota oficial, a candidata, uma das fundadoras da ONG Transparência Brasil.

Anteontem, no estúdio da Bandeirantes, ela disse que não considerava a prática como forma de nepotismo:

- Ninguém diria que é nepotismo o Robert Kennedy ter sido procurador-geral do John Kennedy - afirmou ela.

Paes também admitiu não ter registro na OAB.

- Atuo na política desde os 22 anos. Nunca tive plano para advogar. Por isso, não fiz a prova da OAB - disse Paes, de 36 anos.

Segundo o presidente da OAB-RJ, Octávio Gomes, a atitude de Paes, em tese, pode ser considerada crime de falsidade ideológica:

- Uma pessoa não pode se intitular uma coisa que não é. Para exercer a profissão, é preciso estar inscrito na OAB.

A assessoria de Paes disseque ele usou a palavra "de maneira coloquial, como todos se referem aos bacharéis em Direito".

O prefeito Cesar Maia disse que a briga só prejudica a candidatura de Alckmin, já que PSDB e PFL integram a mesma coligação nacional.

- Acho um erro. Em 1998, eu e Luiz Paulo (Corrêa da Rocha) fomos candidatos adversários, mas apoiando Fernando Henrique. Mantivemos o enorme cuidado de resguardarmos um ao outro. Ele (Paes) não fez isso. Isso prejudica o Alckmin. É ruim, mostra imaturidade política.

Segundo o prefeito, PSDB e PFL não se uniram no primeiro turno no Rio por ambição.

- Tentamos, o PSDB de Brasília tentou, mas muitas vezes as pessoas acham que são mais do que são, do ponto de vista eleitoral. Correm o risco de uma campanha pífia e acabam perdendo o mandato de deputado, ficando alijadas do quadro político durante muitos anos. E quando voltam, não voltam com a mesma luz - disse Cesar, referindo-se a Paes.

Sobre a crítica de Frossard após o debate, que chamou Paes de "filhote da máquina pública de Cesar Maia", o prefeito disse:

- Isso é crítica? Às vezes, os filhos vão por bons caminhos, às vezes não.

* Do Extra

Crivella e Cesar trocam elogios

Adversários na campanha de 2002, o prefeito Cesar Maia (PFL) e o senador Marcello Crivella (PRB), candidato ao governo, encontraram-se ontem no Palácio da Cidade, para assinatura de um termo de compromisso que prevê parcerias, caso Crivella seja eleito. Não faltaram cumprimentos e elogios, entretanto, ao contrário do que ocorreu com outros candidatos, o senador pediu um tempo para ler o documento, antes de assinar.

- Tenho certeza de que a minha equipe, quando analisá-lo, concordará com todos os itens - disse.

Cesar, por sua vez, afirmou que ficou bem impressionado com a atitude do candidato, pois mostra que está otimista com a vitória. O prefeito reafirmou ainda seu apoio a Crivella, num possível segundo turno contra o candidato do PMDB, Sérgio Cabral. Segundo ele, os candidatos são "vinhos de qualidade diferentes".