Título: NOS EUA, 37 MILHÕES ESTÃO NA MISÉRIA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 30/08/2006, Economia, p. 31
Cálculo de pobreza é feito com base no ganho de até US$55 por dia
WASHINGTON. A divulgação, ontem, do índice de pobreza nos Estados Unidos (em 2005) mostrou que a atual política econômica do país tem feito muito pouco para melhorar o padrão de vida de muita gente. A melhoria foi insignificante, segundo o próprio Birô do Censo, responsável pelo levantamento: ela foi equivalente a nada mais do que 0,1%. Além disso, dados complementares exibiram um outro aspecto: houve novo aumento da desigualdade no país entre 2004 e 2005.
Os pesquisadores constataram que 37 milhões de americanos estão vivendo abaixo da linha da pobreza. Isso é equivalente a 12,6% da população. Em 2004, o índice foi de 12,7%. A última vez que a pobreza diminuiu foi em 2000, durante o governo de Bill Clinton: o índice foi de 11,3%. Desde então, a miséria voltou a subir, estancando agora.
- O índice de pobreza mantém-se firme, enquanto a renda média das famílias, em geral, subiu. E isso indica aumento da desigualmente entre os mais prósperos e os pobres - disse David Johnson, chefe da Divisão de Habitação e Estatísticas Econômicas da Família, do Birô do Censo, ao divulgar as cifras.
A desigualdade seria reforçada poucas horas depois quando Gary Burtless, do setor de estudos econômicos da Brookings Institution, renomado centro de pesquisas socioeconômicas de Washington, divulgou um estudo próprio mostrando a evolução dos ganhos reais dos americanos entre 1989 e 2006.
Enquanto a renda dos pobres subiu 3% e a da classe média, 4,5% naquele período; a dos ricos cresceu 42% e a dos milionários (que ocupam uma fatia de apenas 1% da população) subiu nada menos do que 75%.
- Um dado que nos preocupa em relação a esse último informe do Censo é que a renda dos homens caiu 1,8% entre 2004 e 2005 e a das mulheres teve queda de 1,3% - disse.
A economia dos EUA cresceu 4,2% em 2004 e 3,5% em 2005. Mas isso não se refletiu positivamente na vida dos pobres - cuja maioria sobrevive graças a trabalhos na área de serviços. Como o setor manufatureiro vem transferindo a sua produção para países como a China, onde o custo da mão-de-obra é mais barato, cada vez mais americanos têm sido obrigados a aceitar salários menores no setor de serviços.
- Com isso as empresas ganham cada dia mais, e as famílias, menos. As firmas na área de serviços vêm pagando no máximo US$8 por hora. E esse é um salário de pobreza, salário de fome. O pior é ver que o governo ainda não estabeleceu regras para reduzir a pobreza - disse ao GLOBO Larry Aber, professor de Política Pública da New York University.
O quadro geral é agravado pelo fato de que o crescimento dos salários não tem acompanhado o da produção. Enquanto esta teve um aumento de 16,6% entre 2000 e 2005, a compensação para o trabalhador cresceu, em média, 7,2%. E de acordo com o Departamento do Trabalho, a inflação ultrapassou os aumentos salariais nos últimos três anos.
Milionário teve ganho maior de renda nos últimos anos
O salário mínimo americano é de US$5,15 por hora (o que dá um total de US$824 mensais). Ele não é aumentado desde 1996. E isso é muito pouco. Mesmo os US$8 por hora (US$1.792 mensais) pagos por alguns empregados são insuficientes para que saiam da pobreza. Segundo a fórmula de cálculo dos EUA está abaixo da linha da pobreza o trabalhador que ganha, no máximo, US$1.659,75 mensais e tem mulher e dois filhos. Um homem ou mulher, que vivam sozinhos, ganhando até US$831,08 mensais também estão na miséria.
- Os índices de pobreza não subiram como um foguete, como alguns temiam. Mas eles tampouco caíram muito, o que mostra que muitas pessoas que deixaram o auxílio-desemprego não conseguiram sair da pobreza. Na melhor das circunstâncias elas estão apenas sobrevivendo - disse Joan Entmacher, vice-presidente do Centro Nacional de Defesa de Mulheres, de Washington.
INCLUI QUADRO: POBRE LÁ. AQUI, NEM TANTO