Título: Pacote cambial terá efeito pequeno
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 30/08/2006, Economia, p. 33
Governo eleva prazos para aumentar demanda por dólar, mas oferta ainda é alta
BRASÍLIA e RIO. Será pequeno, para analistas ouvidos pelo GLOBO, o impacto na taxa de câmbio de duas medidas tomadas pelo governo que aumentam para 360 dias o prazo para conversão em reais de receitas obtidas com exportações e para a compra antecipada de moeda estrangeira para quitar obrigações no exterior. As regras foram publicadas na segunda-feira no Diário Oficial da União e em uma circular do Banco Central (BC).
No caso dos exportadores, o BC estendeu de 210 para 360 dias o prazo para ingressar no país com os recursos de suas operações. Apenas 30% podem ficar no exterior. Já o Tesouro Nacional passa a poder comprar moeda para operações da dívida externa - pagamento de vencimento ou recompra de títulos - que vencem num período de 360 dias e não mais 180 dias.
Em tese, as novas oportunidades significam que a demanda por dólares poderia aumentar, valorizando a moeda. No entanto, diz o economista da Tendências Guilherme Maia, o Brasil tem hoje dólares em excesso provocado pelo bom desempenho das exportações:
- As compras de dólares do Tesouro devem passar de US$2,1 bilhões para US$5,7 bilhões. Mas não haverá muito impacto sobre o câmbio.
O economista da RC Consultores Fábio Silveira lembrou que o ponto central da excessiva valorização do real em relação ao dólar é a taxa de juros elevada, que atrai investidores.
- Pouca gente vai querer sacar seus investimentos de fundos de renda fixa, por exemplo, para comprar dólares com antecedência muito grande se a cotação não vale a pena - disse Silveira.
Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 0,19%. O dólar recuou 0,14%, a R$2,138, e o risco-Brasil, 0,44%, para 226 pontos centesimais. A ata da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), realizada no último dia 8, trouxe tranqüilidade aos investidores. Embora tenha mencionado riscos de pressões inflacionárias, o texto ressaltou que estes podem ser efeitos de curto prazo, que tendem a se dissipar nos próximos trimestres. (Martha Beck, Patrícia Duarte e Patricia Eloy)