Título: EX-MINISTROS CRITICAM PROGRAMA DE GOVERNO DO PT POR NÃO CORTAR GASTOS
Autor: Lino Rodrigues
Fonte: O Globo, 31/08/2006, O País, p. 4

Mailson fala em cinismo; Malan, em preocupação; e Delfim vê início trágico

SÃO PAULO. O programa de governo do PT, divulgado anteontem pelo presidente Lula, foi duramente criticado ontem por três ex-ministros da Fazenda dos governos anteriores aos do PT. Maílson da Nóbrega, Delfim Netto e Pedro Malan, que participaram ontem de um seminário promovido pela Tendências Consultoria Integrada e pela Agência Estado, focaram suas críticas na falta de propostas para reduzir a carga tributária, hoje em 37,37% do PIB, e para cortar gastos do governo.

Maílson da Nóbrega, que esteve à frente da economia no governo de José Sarney, foi o mais duro e classificou o plano de governo dos petistas de ¿programa de auditório¿.

¿ Acho que é só figuração. É um programa que reflete um grau de cinismo muito grande, e é de uma desonestidade incrível ¿ atacou o ex-ministro, sócio da consultoria que promoveu o seminário.

Ele também acredita que o próprio presidente Lula, se reeleito, vai ignorar o programa que, segundo disse, tem até erros de aritmética:

¿ Quem fez o programa não sabe fazer contas, já que prever aumento dos gastos primários, mantendo a atual carga tributária e a meta de 4,25% de superávit primário é a mesma coisa que dizer que dois mais dois são cinco. É uma conta que não fecha ¿ disse ele.

¿Preocupante¿, declara Malan

Pedro Malan, ministro da Fazenda durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, não fez um ataque frontal ao documento do PT, mas disse que o programa ¿não traduz claramente o desejo de cortes adicionais de gastos¿, ou seja, não prevê redução nas despesas do governo nem diminuição da carga tributária. Para Malan, o corte de despesas públicas deveria ser o ponto central do programa de governo de Lula.

¿ As propostas não sinalizam nenhuma medida no sentido de corte na tributação e nos gastos do governo. Isso é preocupante ¿ afirmou.

Para o ex-ministro do governo tucano, o momento é de buscar ampliar o espaço da convergência em torno de objetivos almejados por todos como a criação de condições para um crescimento econômico sustentável.

¿ Quaisquer que sejam os futuros governantes, terão que anunciar com convicção que há uma política de contenção dos gastos públicos. Só assim começaremos a reduzir carga tributária e os juros.

Já o deputado Delfim Netto (PMDB-SP), que foi ministro durante o regime militar e tem defendido a política macroeconômica do governo Lula, considerou a introdução do programa do PT ¿uma tragédia, mas o resto, aceitável¿.

Para ele, que dirigiu a economia brasileira nos governos militares, Lula deveria dar prioridade a um ajuste fiscal profundo e definitivo, ¿única forma de o país voltar a crescer com tranqüilidade¿. Para o deputado, o que foi divulgado não é o programa do presidente Lula, mas o plano de governo do PT.

¿ Se o presidente pretende ter uma coalizão de forças, terá que discutir o programa com os partidos aliados. Hoje, as coisas são mais simples que no passado. A componente ideológica está minguando e a reacionalidade crescendo ¿ salientou o deputado.