Título: GASTO COM BOLSA FAMÍLIA SUBIU 60% EM UM MÊS
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 31/08/2006, O País, p. 8

Programa, carro-chefe da campanha à reeleição, pagou em julho dois meses de benefício a 40% dos assistidos

BRASÍLIA. Os repasses para o programa Bolsa Família, carro-chefe da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passaram de R$598 milhões em junho para R$952 milhões em julho, um aumento de 60%. Isso porque, já no período eleitoral, o governo antecipou os pagamentos do programa, fazendo com que cerca de 40% das famílias recebessem em julho dois meses de benefício.

Normalmente, os pagamentos do programa são divididos em duas partes: uma parte das famílias recebe o benefício nos cinco últimos dias úteis do mês e o restante nos cinco primeiros dias do mês seguinte, de acordo com o número de identificação social do beneficiário. Em agosto, o volume de recursos gastos com o Bolsa Família deverá ficar abaixo do registrado em julho, pois não há previsão de novas antecipações de pagamento.

Tesouro liberou recursos para antecipação

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, em julho foi paga parte do benefício de junho e toda a folha de julho, com a antecipação da parcela que seria paga na primeira semana de agosto. O ministério justificou a mudança de critério afirmando que quem define o cronograma de gastos com o Bolsa Família é o Tesouro Nacional. Como mais recursos foram liberados pelo Tesouro, foi possível antecipar o pagamento de agosto.

A execução orçamentária nos sete primeiros meses do ano eleitoral mostra um aumento de 29% nos gastos com assistência social e de 39% nas despesas com programas de transferência de renda, entre os quais o Bolsa Família ¿ um dos pilares da popularidade do presidente nas classes de renda mais baixa.

Entre julho e outubro, o governo fica impedido pela Lei Eleitoral de realizar novas ações que possam favorecer o presidente, mas, como o programa é uma ação continuada, não está sujeito às restrições da lei.

De janeiro a julho, os gastos com assistência social chegaram a R$11,5 bilhões. No mesmo período do ano passado foram R$8,9 bilhões. Já as despesas com o Bolsa Família passaram de R$3,1 bilhões para R$4,3 bilhões, na comparação entre os dois períodos. O número de famílias atendidas passou de 8,7 milhões para 11,1 milhões, de 2005 para 2006, e o governo reservou R$8,3 bilhões no Orçamento para este fim.

A ampliação do repasse de recursos no período pré-eleitoral, segundo analistas, vai influenciar no pleito. Os números disponíveis no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) mostram que no Nordeste, onde o presidente Lula tem a preferência de mais de 60% do eleitorado, o aumento dos recursos repassados em julho, comparado com o mês anterior, chega a 92,7%. Os repasses passaram de R$245,8 milhões para R$473,8 milhões em apenas um mês.

¿ Sem dúvida influencia a popularidade do presidente Lula na classes C e D. O impacto é inquestionável. É injeção na veia ¿ afirma o cientista político Murilo Aragão.

O economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra preocupação com o aumento dos gastos correntes do governo, onde se incluem os programas de transferência de renda, embora elogie o Bolsa Família.

¿ O problema não é terem aumentado os gastos com o Bolsa Família, que é o melhor programa concebido pelos governos nas últimas décadas, em termos de focalização. O problema é que não há redução de outras despesas.