Título: PT PROPÕE RECUPERAR INDÚSTRIA BÉLICA NACIONAL
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 31/08/2006, O País, p. 9

Programa de governo prevê ainda reaparelhamento das Forças Armadas e ações integradas na América do Sul

SÃO PAULO. O programa de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciado anteontem, propõe o reaparelhamento das Forças Armadas e a recuperação da indústria bélica em parceria com outros países sul-americanos. Segundo o coordenador do programa, Marco Aurélio Garcia, as propostas estão vinculadas à implantação de uma doutrina regional de segurança para o subcontinente. Lula tem conversado com os demais presidentes da região sobre a recuperação do potencial bélico. Segundo fontes do PT, as conversas incluem o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

¿ Os presidentes têm a oportunidade de debater uma doutrina de segurança para a região. Não temos que suar calores alheios. Temos questões de segurança específicas da região que muitas vezes não são formuladas nem discutidas da maneira mais apropriada. Se essa doutrina avançar, certamente terá desdobramentos para a indústria bélica ¿ disse Garcia.

Texto cita conversas entre presidentes sul-americanos

O programa de Lula fala, na página 26, em ¿acelerar o processo de reaparelhamento das Forças Armadas¿ e ¿reconstruir a indústria bélica nacional de forma articulada com os países da América do Sul¿.

¿ Nas últimas décadas houve um desmantelamento da indústria bélica na região. Nas reuniões que os presidentes têm mantido, tem se estudado concretamente a possibilidade de uma recomposição dos estoques bélicos sul-americanos que se possa fazer através do estímulo à indústria bélica regional ¿ explicou Garcia.

As propostas do programa de governo estão embasadas na Política de Defesa Nacional, texto oficial elaborado pelo Ministério da Defesa em julho do ano passado e atualizado em julho deste ano.

¿É imprudente imaginar que um país com o potencial do Brasil não tenha disputas ou antagonismos ao buscar alcançar seus legítimos interesses¿, diz o texto.

Segundo o ministério, disputas por áreas marítimas, espaço aéreo e fontes de água doce são focos de conflito em potencial.

Outro motivo de preocupação da área militar é a Amazônia. Além disso, a instabilidade política em alguns países da região pode afetar o país, segundo o ministério, que defende o incentivo à indústria bélica sul-americana. ¿O fortalecimento da capacitação do país no campo da defesa é essencial e deve ser obtido com o envolvimento permanente dos setores governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e tecnológica e para a inovação. O desenvolvimento da indústria de defesa é fundamental para alcançar o abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa. A integração regional da indústria de defesa, a exemplo do Mercosul, deve ser objeto de medidas que propiciem o desenvolvimento mútuo, a ampliação dos mercados e a obtenção de autonomia estratégica¿, diz o documento do ministério.

Previsão de US$3 bi para o reaparelhamento das Forças

O governo prevê investimentos de US$3 bilhões no reaparelhamento das Forças Armadas até 2015. No ano passado foram comprados 12 caças Mirage 2000-C da França, por US$97 milhões. Quatro deles serão entregues este ano e os outros até 2007.

Além disso, o governo encomendou 99 Supertucanos da Embraer, 30 dos quais entraram em operação em 2004, e um submarino de fabricação nacional para a Marinha.

Os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores não comentaram o teor do programa de governo de Lula.