Título: DILMA DIZ QUE NÃO VÊ COM BONS OLHOS CORTES NA VOLKS E SUGERE ENTENDIMENTO
Autor: Monica Tavares e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 31/08/2006, Economia, p. 28
Executivo da montadora alerta para risco de unidade do ABC paulista fechar
BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. O governo indicou ontem que continua trabalhando para que a Volkswagen e os metalúrgicos da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, cheguem a um acordo que evite o corte de pessoal. Um dia após a montadora distribuir 1.800 cartas de dispensa na unidade, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que o governo ¿não vê com bons olhos¿ a demissão em massa pela companhia, que passa por processo mundial de reestruturação.
¿ Como governo, somos a favor sempre de um entendimento entre a Volkswagen e os trabalhadores. Obviamente, o governo não vê com bons olhos o fechamento de fábricas, notadamente a unidade de São Bernardo ¿ disse Dilma.
Na última segunda-feira, em reunião na Casa Civil com a presença de outros ministros, o governo tentou pressionar a Volks, ao determinar a suspensão da análise do pedido de empréstimo de R$479 milhões que a montadora encaminhou ao BNDES. A retomada da discussão da viabilidade da operação só será feita quando houver entendimento entre a empresa e empregados ¿ o que, diante da greve no ABC, está longe de acontecer.
Ontem, Dilma reforçou esta posição, afirmando que o empréstimo está condicionado à manutenção da fábrica de São Bernardo ¿ uma vez que o pedido da Volks ao BNDES destina os recursos para a ampliação e a modernização desta e de outra unidade:
¿ Seria absolutamente estranho que a gente financiasse algo sem base material.
Sindicato: não há disposição da Volks para negociar
Os trabalhadores da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo decidiram ontem em assembléia manter a paralisação iniciada na tarde de terça-feira, em protesto contra o anúncio da demissão de 1.800 empregados daquela unidade. Os empregados não aceitam a forma como a empresa vem fazendo o ajuste de custos, que prevê pelo menos 3.600 demissões e redução de benefícios trabalhistas. Com a greve, 940 carros não foram produzidos ontem.
Em comunicado divulgado no início da noite de ontem, a montadora alertou que ¿sem acordo, a fábrica Anchieta não terá como atrair novos investimentos¿. A empresa disse ainda que o prazo para um entendimento acaba no início do próximo mês, quando reuniões na matriz, na Alemanha, decidirão sobre os investimentos estratégicos ao redor do mundo.
¿ A empresa está sendo absolutamente clara e transparente ao indicar as graves conseqüências que ocorrerão caso não haja um acordo trabalhista. Desta vez, a questão está concentrada na existência ou não de futuro para a Anchieta, maior operação da Volks no Brasil ¿ disse o vice-presidente de Recursos Humanos da montadora, Josef-Fidelis Senn.
José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, reafirmou disposição em retomar a negociação e acusou a empresa de fazer cena:
¿ Nós vamos negociar para buscar alternativas ao que eles querem, e eles vão para a mesa apenas para reafirmar o que já haviam proposto ¿ disse ele. ¿ A Volks diz isso para a Alemanha ver e brasileiro acreditar. Na prática, não há disposição nenhuma de negociar para valer.
Ontem, fontes do BNDES confirmaram que o empréstimo de R$497 milhões para a Volks foi aprovado em abril, e o contrato foi assinado em seguida. Em geral, os empréstimos são liberados seguindo um cronograma de obras. A instituição, porém, não informou o cronograma da Volks, cujo financiamento está suspenso desde a última segunda-feira.
COLABOROU Ramona Ordoñez