Título: EMBRAER VENDE 100 AVIÕES À CHINA POR US$ 2,7 BI
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 31/08/2006, Economia, p. 29
Contrato é o maior fechado pela companhia este ano; metade das encomendas vai ser produzida no Brasil
BRASÍLIA e RIO. A Embraer assinou ontem, no Palácio do Planalto, com o grupo HNA, quarta maior empresa aérea da China, o contrato de venda de cem aviões, num total de US$2,7 bilhões (cerca de R$5,7 bilhões). Esse foi o maior negócio fechado pela empresa este ano, segundo seu presidente, Maurício Botelho. A Embraer vai vender para a China 50 aviões ERJ 145 e outros 50 do modelo Embraer 190, que serão entregues ao longo dos próximos cinco anos.
O contrato do setor aéreo foi assinado na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Comitê Permanente da Assembléia Popular Nacional da China, Wu Bangguo, que se reuniram pouco antes da cerimônia de assinatura de acordos entre empresas brasileiras e chinesas.
¿ O contrato tem uma importância que transcende a ele próprio. É muito relevante pelo seu volume e já justificaria toda a cerimônia. Mas tem outros fatores de relevância na afirmação da estratégia que desenvolvemos de estabelecer na China joint-venture da nossa empresa desde dezembro de 2002 ¿ disse Botelho.
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O modelo ERJ 145, um jato de 50 assentos, será produzido pela joint-venture Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), na cidade de Harbin, na província chinesa de Heilongjiang, e começará a ser entregue em setembro de 2007. Já o Embraer 190, com 106 lugares, será produzido na fábrica de São José dos Campos (SP), e será entregue a partir de dezembro do próximo ano. Ontem, a Embraer assinou também um acordo para ampliação da joint-venture com a Aviation Industry Corporation II (AVIC II) para construção dos aviões em Harbin.
A Embraer, segundo Botelho, tem 20 aviões em operação na China, que representa menos de 2% do mercado da empresa. O principal mercado da Embraer são os EUA, que concentram 70% dos negócios. A Europa tem 25% e o resto do mundo, 5%. Mas para o presidente do grupo HNA, Chen Feng, a Embraer está fazendo a aposta certa, pois o mercado aéreo da China tende a crescer acompanhando o ritmo daquela economia.
Feng estimou que, nos próximos cinco anos, a economia chinesa passará do quarto para o segundo lugar no mundo e o país comprará mais mil aviões, sendo 300 para aviação regional, que exige aeronaves de pequeno e médio portes, o nicho da Embraer. Bem-humorado, Feng disse que o presidente da Embraer é um herói por investir nesse mercado.
¿ Essa será uma oportunidade muito grande para fabricante de aviões regionais ¿ disse Feng, esclarecendo que a maior parte da frota chinesa é de Boeing e Airbus, respectivamente de fabricação européia e americana. ¿ Mas o Brasil tem condições de fabricar aviões de boa qualidade.
O executivo chinês, que pediu desculpas por não falar português, disse que a HNA foi criada em 1993 e já ocupa o quarto lugar na China, com uma frota de 120 aviões e 3.000 vôos, atendendo todas as cidades chinesas. A proposta da empresa é explorar o Oeste e o interior da China, daí a necessidade de aviões de pequeno e médio portes. Esse mercado, segundo Feng, cresce rapidamente.
¿ Nós somos a quarta empresa e estamos comprando cem aviões, imaginem as três primeiras ¿ disse Feng.
A Embraer abriu escritório na China em 2000, em Pequim, onde mantém 20 empregados. Na fábrica em Harbin, que começou a funcionar em 2003, são 173 funcionários.
¿ Fico muito feliz em saber que o meu negócio está se desenvolvendo, continuamos crescendo, gerando divisas para os acionistas e sendo uma empresa lucrativa ¿ afirmou Botelho.
As ações ordinárias (com direito a voto) da Embraer foram um dos destaques na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Num dia em que o Ibovespa fechou estável (0,03%), o papel, a terceira maior alta, subiu 6,01% no pregão, a R$20,79. Daniella Marques, gestora de renda variável da Mercatto Gestão de Recursos, aposta em uma maior valorização das ações da empresa.
¿ Ela conseguiu entrar no mercado de maior crescimento no mundo. O contrato representa 20% do valor de mercado da empresa, em torno de R$15 bilhões ¿ avaliou.
Empresas de energia e telefonia fazem acordos
Na mesma solenidade em que a Embraer fechou o negócio com a HNA, foram assinados outros três acordos. A Eletronorte assinou um memorando de entendimento com o grupo CITIC, visando à cooperação na construção de uma central hidrelétrica no rio Madeira.
A Brasil Telecom fechou um memorando de entendimento com a ZTE Corporation para intercâmbio em pesquisas e desenvolvimento de produtos no segmentos de telefonia móvel, fixa, dados e serviços. A ZTE também assinou memorando com a Evadin Indústrias da Amazônia para fabricação de telefones celulares em Manaus.
No ano passado o comércio entre Brasil e China, o terceiro maior parceiro comercial do país, superou US$12 bilhões.
COLABOROU Ana Cecília Santos